O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A review de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
PENSEI SE QUERIA MESMO ESCREVER UMA REVIEW DA NOVA EMPREITADA DA FAMÍLIA MAIS QUERIDA DAS HQS. Apesar de ter gostado, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos (Fantastic Four: First Steps, Matt Shakman, 2025) é mais do mesmo do fantástico universo Disney. Não tem nenhuma provocação, reflexão, profundidade, transformação, inovação ou originalidade. Nenhuma. Necas. Nada de pitibiriba. Por que escrever sobre a mais recente das quase 40 produções inspiradas na genialidade de Stan Lee? Eu não sei ainda, mas espero descobrir antes de finalizar a review.
Como antecipado na review de Superman , o novo Quarteto Fantástico também não perdeu tempo com apresentações. Ao contrário do rival da DC, pelo menos não pecou pela exposição e fluiu com naturalidade. Nós já sabemos quem são esses personagens, pelo amor de Deus. É que nem perder tempo com parágrafo de sinopse em uma crítica de filme de parque de diversão. Ninguém se importa. Queremos é saber se funciona ou não. Se tem porradaria boa ou não.
Tenho saudades da época em que eu também não me importava e conseguia ver um filme apenas e exclusivamente como entretenimento. Vibrava com os heróis, com as revelações, com as participações de personagens queridos. Hoje, só consigo pensar “falta quanto tempo para essa porra acabar, mesmo?” ou “que falta de vergonha na cara, Disney!”.
Shakman, cuja carreira foi construída basicamente comandando episódios de séries (incluindo Game of Thrones), é um exemplo do que me frustra nesse parque de diversão. A falta de um diretor/diretora de renome e identidade é um grande equívoco desses filmes. O motivo? Bem, deve ser porque diretores sérios não começariam suas produções sem ter o roteiro pronto ou permitiriam receber os storyboards prontos para apenas executar. Essa decisão do poderoso Kevin Feige faz das adaptações das HQs uma imensa série de TV. Os defensores podem chamar de cinema, claro. Não deixa de ser, mas é uma forma de fazer cinema abaixo do medíocre.
Sem um grande diretor (não posso ser injusto aqui; Jake Schreier, por exemplo, conseguiu fazer de Thunderbols a melhor produção da Disney em anos) ou uma vontade de ser mais que a ponta de um iceberg, as narrativas se reduzem a momentos de ação que levam a história do ponto A para o ponto B. Quarteto Fantástico poderia ser um scifi da pesada ou mesmo se aventurar a debater a ética dos heróis ao preferirem salvar o próprio filho do que a humanidade, mas fica na superfície sem nenhum tipo de vontade de provocar seu público.
O resultado é divertido. Apenas. Temos piadas divertidas, personagens carismáticos, todo o charme de Pedro Pascal, mas fica nisso. Mesmo o vilão, que surge como uma ameaça insuperável, é vencido sem grandes dificuldades. Quando esse clichê se repete, eu lembro sempre do Apocalypse (Oscar Isaac) em X-Men: Apocalypse (2016). Até então, permanece como o cavalo mais paraguaio dos vilões do cinema. Galactus não fica tão atrás assim.
Acredito que não seja um grande elogio quando a cena pós-créditos é a melhor parte do filme, certo? Pois é isso que acontece aqui. A breve introdução do vilão Dr. Destino (Robert Downey Jr.) compensa a sessão matinê e prepara o que pode ser o começo do fim de toda essa jornada épica iniciada em 2008, com Homem de Ferro. Foram bons momentos, mas a falta de compromisso com a qualidade e o respeito pelo cinema cobram um preço alto com a minoria cansada de aceitar qualquer coisa nas telonas.

