critica infancia domingos de oliveira

Crítica: Infância – Mostra de SP

38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo #45

 
critica infancia domingos de oliveira

Concentrando-se em um único dia na vida de uma família aristocrática no Rio de Janeiro dos anos 50, Infância é um filme obviamente autobiográfico em que o diretor Domingos de Oliveira (Todas as Mulheres do Mundo, As Duas Faces da Moeda) se transforma em Rodriguinho (Guaraná) e relembra a dinâmica existente entre seus familiares  amigos naquela époCa que, naturalmente, moldou para sempre sua maneira de enxergar o mundo. Mas se para o cineasta a experiência serve como uma uma análise em retrospecto do que o fez ser quem foi (Oliveira já tem 78 anos de idade e, portanto, já está na fase de “fazer um balanço” de tudo o que fez e deixou de fazer), para o espectador falta um aprofundamentomaior dos personagens que cruzam a tela e sobra a impressão frustrante de estarmos assistindo a um mero teatro filmado.

Rodeado pela avó Dona Mocinha (Montenegro), uma fervorosa fã de Carlos Lacerda (pois é), os pais Conceição (Rozenbaum) e Henrique (Betti), que com o tempo passou a se sentir “da família” e a cuidar de alguns dos seus negócios, o tio Orlando (Kosovski), um beberrão incorrigível, os empregados da casa (sendo a doméstica interpretada por Nanda Costa a mais presente) e a professora particular (Flor), Rodriguinho brinca pelo casarão da família sem sentir direito o luto pelo falecimento de seu avô nem saber que seu cachorro também morreu, envenenado por naftalina. Enquanto isso, Dona Mocinha cobra as escrituras de dois apartamentos administrados por Henrique, joga na cara de Orlando a culpa por seu divórcio recente, reclama do abandono da família e usa as refeições que compartilha com seus descendentes para despejar sua visão machista, retrógrada e reacionária do mundo.

Mas não é só em suas tentativas de comentar a situação política do país na década retratada que Infância decepciona: inicialmente narrado em off (uma estratégia narrativa que é inexplicavelmente abandonada quando não se faz mais necessária) e todo filmado em planos médios e no máximo americanos que enquadram os personagens de frente em cenários predominantemente externos, o longa, que tem apenas 84 minutos de projeção, jamais permite que conheçamos de fato seus personagens, mantendo seus conflitos em um nível superficial e, para piorar, investindo um tempo absurdo em uma subtrama tola e artificial envolvendo o insuportável Ricardinho, um primo de Rodriguinho que só fala palavrão, ofende a professora sexualmente e tenta iniciar o protagonista em experiências homossexuais.

Demonstrando um descuido estético alarmante ao utilizar mais de uma vez uma câmera lenta criada na pós-produção, Infância não vai a lugar nenhum, servindo apenas como sessão de terapia para seu nostálgico diretor.

Poster Infancia Mostra de SP

Infância (Idem, Brasil, 2014). Escrito e dirigido por Domingos de Oliveira. Com Raul Guaraná, Fernanda Montenegro, Paulo Betti, Priscilla Rozenbaum, Ricardo Kosovski, Maria Flor, Nanda Costa e Renata Paschoal.