ESTREIA como um relâmpago

Michael Shannon é um presidente relutante e Matthew Macfadyen um lunático narcisista em “Como um Relâmpago”, a série histórica mais viciante do ano

Tem coisa mais irresistível do que ver dois homens brancos cis-heteros históricos se enfrentando por poder, relevância e um tiquinho de insanidade? Pois é. Como um Relâmpago chegou na Netflix com pinta de minissérie de época comportada, mas entrega uma verdadeira montanha-russa emocional e política sobre ambição, culto à personalidade e os perigos de bajular demais o chefe errado.

Com apenas quatro episódios, o projeto dirigido por Mike Makowsky escapa da temida “cara de tédio da Netflix” e mergulha em uma das histórias reais mais bizarras (e esquecidas) da política americana: o assassinato do presidente James A. Garfield — interpretado com sobriedade brutal por Michael Shannon — por um sujeito que parece saído diretamente de um fórum do Reddit de 2007: Charles J. Guiteau, vivido com maestria por Matthew Macfadyen (Succession).


️ Sobre o que é Como um Relâmpago?

A minissérie acompanha dois homens em rota de colisão com a história: o improvável presidente Garfield, empurrado ao poder sem pedir, e Guiteau, um charlatão delirante que acredita merecer um cargo político só por ter escrito um panfleto. O resultado? Um assassinato que diz mais sobre a América do século XIX (e de hoje) do que qualquer manual escolar.

Ao retratar os eventos que antecederam o crime, Como um Relâmpago também se debruça sobre as contradições do sistema político americano, o culto aos “grandes homens” e como o narcisismo pode ser combustível para tragédias.


Para quem é?

Se você curtiu The Crown, O Assassinato de Gianni Versace, ou adora um drama histórico com cara de série prestigiada de festival, corre que esse aqui é pra você. Mas se política americana te dá sono e você quer só ver zumbi e alienígena explodindo coisas… talvez não seja seu rolê.


Quem está no elenco?

Michael Shannon entrega seu melhor trabalho desde Take Shelter, como um Garfield estoico, culto e permanentemente desconfortável com a cadeira de presidente. Já Matthew Macfadyen — pós-Succession — está em modo “surto premiável”, interpretando Guiteau como um stalker político, um lunático com traços de influencer frustrado e coach motivacional com mania de grandeza.

No apoio, temos Bradley Whitford como James G. Blaine, Shea Whigham como o rival Roscoe Conkling, e um surpreendente Nick Offerman como Chester Arthur, vice que herda a presidência. O elenco inteiro brilha, elevando figuras esquecidas à categoria de personagens inesquecíveis.


⚡ Uma aula de história com sangue, sarcasmo e crise de identidade

A série acerta ao misturar realismo histórico com ritmo de suspense político. Ela não quer fazer TED Talk disfarçado de entretenimento: Como um Relâmpago entende que política é feita de vaidade, manipulação e, às vezes, puro acaso. E como é delicioso assistir à queda de um ego inflado em câmera lenta.

Com diálogos afiados e trilha sonora que não tem medo de apelar para um needle drop dos anos 1980 (mesmo se for anacrônico), a série flerta com um certo cinismo divertido, mas nunca perde o respeito pelo absurdo real que está retratando.


Macfadyen, o Guiteau que virou espelho do fã tóxico moderno

Macfadyen brilha ao transformar Guiteau em uma figura perigosamente familiar: aquele cara que acha que por ter dado um RT ou ter colado um cartaz, já virou parte da equipe. É o fã obcecado, o eleitor carente, o narcisista que confunde admiração com direito adquirido. Em tempos de radicalização online, o paralelo é impossível de ignorar.


Veredicto: Como um Relâmpago é bom?

É mais que bom: é eletrizante. Uma minissérie histórica que entende que o passado só é chato quando contado sem personalidade. Ao focar no improvável embate entre um presidente honesto e um lunático cheio de sonhos e zero competência, Como um Relâmpago nos lembra que a história, no fim, é feita de acasos, de vaidades — e de gente que acredita demais no próprio marketing.

Nota: 4,5/5 — Um épico político com alma de thriller psicológico. E um lembrete cruel: às vezes, tudo o que separa um herói de um vilão é quem escreveu o panfleto.


Assista ao trailer

https://www.youtube.com/watch?v=0JwBjTvqazk 
Disponível na Netflix