ESTREIA EDEN

Estreia: Jude Law busca o paraíso, mas encontra o inferno na nova utopia falida de Ron Howard

Imagine largar tudo — emprego, dentes, vizinhos — para começar uma nova vida em uma ilha deserta no meio do Pacífico. Agora imagine que, em vez de paz, você encontra Ana de Armas montada em homens e armada com um hotel para milionários. Esse é o nível de delírio que você vai encontrar em “Eden”, o novo drama histórico-existencial dirigido por Ron Howard, estrelado por Jude Law, Vanessa Kirby e Ana de Armas no papel mais incandescente desde Blonde.


Utopia à la carte: três grupos, zero convivência

Inspirado na história real dos “Eremitas de Floreana”, Eden acompanha três grupos de alemães que, nos anos 1930, decidiram fugir da sociedade e colonizar uma ilha isolada nas Galápagos. Cada grupo tinha uma visão diferente do que seria viver “livre” — o problema? Eles são péssimos em liberdade compartilhada.

Jude Law é Friedrich Ritter, um médico niilista que arrancou os próprios dentes para não depender de dentista (!), mora com sua companheira Dore (Vanessa Kirby) e passa os dias escrevendo uma filosofia revolucionária enquanto ela cuida da horta e do burrinho de estimação.

Chegam depois os Wittmers — um casal religioso e o filho do primeiro casamento — e, finalmente, entra em cena A Baronesa (Ana de Armas): parte Mata Hari, parte influencer visionária, ela invade a ilha com seus dois amantes musculosos e planos de abrir um resort para ricos. Se o filme tivesse cheiro, seria de suor, pólvora e Chanel nº 5.


A luta de egos é o verdadeiro apocalipse

Ron Howard dirige Eden como um estudo de caso sobre o colapso moral sob o sol escaldante. O roteiro de Noah Pink constrói o caos como um jogo de Tetris: aos poucos, as peças se encaixam (e se chocam), até que tudo desmorona. Cada personagem representa uma ideologia — niilismo, fé, hedonismo — mas nenhuma delas aguenta firme quando a fome, a inveja e a testosterona tomam conta.

Destaque para Sydney Sweeney, que faz Margret, a jovem esposa grávida que sobrevive a todos com coragem discreta e uma atuação cheia de nuances. Enquanto todos gritam ou posam, ela observa, aprende e resiste — um lembrete de que nem sempre os mais barulhentos são os mais aptos.


Quando a utopia vira distopia

A segunda metade do filme mergulha num clima de paranoia, fome e violência que faz parecer que O Senhor das Moscas e White Lotus tiveram um filho ilegítimo no meio da selva. E claro, quando aparece uma arma, Chekhov sorri do além — ela vai disparar, e não só uma vez.

Richard Roxburgh surge como um milionário hollywoodiano em expedição científica que diz que aquilo tudo é Darwin em ação. Spoiler: é mais reality show do que evolução. Cada personagem vai se revelando menos civilizado do que os animais selvagens da ilha.


Técnica e tensão

A fotografia de Mathias Herndl dispensa paisagens paradisíacas: Floreana é poeira, pedra e suor. O clima de tensão é amplificado pela trilha de Hans Zimmer, que funciona como um tambor de guerra pulsando sob o calor do sol equatoriano.

O filme escorrega um pouco ao tentar equilibrar tons tão diferentes — niilismo filosófico, sensualidade kitsch e drama histórico nem sempre convivem bem no mesmo quadro. Mas quando o caos explode, a sensação é que você está assistindo a uma alegoria da humanidade fracassando ao tentar começar do zero — de novo.

Onde assistir Eden?

Se você quer assistir ao colapso civilizatório com figurino de linho e suor europeu em 4K, é só dar o play: Eden está disponível no catálogo da Amazon Prime Video. Perfeito para aquela noite em que você quer sentir superioridade moral enquanto observa idealistas se destruírem em uma ilha paradisíaca.


⚖️ Veredito: 4/5

Eden é uma aula de como o paraíso pode ser uma miragem e a natureza humana, um pesadelo reciclado com sotaque europeu. Um filme ambicioso, claustrofóbico e hipnotizante, com atuações marcantes e um terceiro ato que queima como sol de meio-dia.

Para fãs de: “O Fabuloso Destino do Egoísmo Europeu”, “O Farol” versão tropical e treta com sotaque chique.