Quer saber o que acontece em Faça ela Voltar? Se em Fale Comigo os irmãos Philippou mostraram que a juventude em luto pode abrir portas perigosas para o além, no novo trabalho eles dobram a aposta: aqui, a dor materna vira monstro. E que monstro. Sally Hawkins entrega uma performance devastadora como Laura, uma mãe que perdeu a filha e decide que, se a vida não a devolve, ela mesma vai forçar o destino.
O resultado é um pesadelo de 100 minutos onde luto e horror se confundem até se tornarem indissociáveis.
A trama até o colapso
Após a morte do pai, os meio-irmãos Andy (Billy Barratt) e Piper (Sora Wong), quase cega, vão parar no sistema de adoção. Ele tem apenas três meses para chegar à maioridade e se tornar o tutor legal da irmã. Mas o “lar temporário” que encontram é tudo menos seguro: Laura, a nova responsável, parece interessada apenas em Piper, que lembra em tudo sua filha morta, Cathy.
No quintal, um detalhe perturbador: Laura também abriga Oliver, um garoto mudo, violento e mantido trancado — que na verdade é Connor, uma criança sequestrada. Aos poucos, Andy percebe que está preso num ritual macabro disfarçado de casa de acolhimento.
O ritual da ressurreição
O mistério se revela: Laura guarda o corpo congelado de Cathy no galpão e planeja ressuscitá-la com um VHS de magia negra. O ritual exige três peças:
-
o corpo da morta (Cathy, claro),
-
um receptáculo humano parecido (Piper, também quase cega, escolhida como “nova filha”),
-
um hospedeiro de transição (Oliver/Connor, possuído e forçado a devorar a carne de Cathy para depois regurgitá-la em Piper).
Para completar, Piper teria de morrer do mesmo jeito que Cathy morreu: afogada na piscina. Macabro e repulsivo, mas faz sentido dentro da lógica de “grief horror” que os Philippou adoram explorar.
O destino de Andy
Desesperado, Andy tenta denunciar Laura para a assistente social Wendy. Mas a reação da mulher é tão brutal quanto previsível: atropela os dois, mata Wendy e afoga Andy numa poça. Antes de morrer, Andy confessa à irmã que, quando crianças, chegou a agredi-la por ciúmes da atenção do pai. A culpa o transformou no protetor obsessivo de Piper. Sua morte torna o peso do final ainda mais cruel: Piper perde não só o pai, mas o único elo de afeto real que tinha.
O clímax sangrento
Laura arrasta Piper para a piscina, pronta para completar o ritual. Oliver já está inchado de restos de Cathy, pronto para vomitar a alma na nova hospedeira. Mas no auge do desespero, Piper grita “Mãe!”.
Esse apelo rompe a obsessão de Laura por um instante. A mulher hesita, e Piper consegue escapar. Encontrada por sua treinadora de goalball, ela sobrevive — mas o trauma agora é irreversível.
Enquanto isso, a polícia encontra Laura abraçada ao cadáver mutilado da filha na piscina, e Oliver liberto do transe, chorando pelo próprio nome: Connor.
O significado do final de Faça Ela Voltar
O último olhar de Piper é para o céu, ao ouvir o som de um avião. Ela lembra do que Andy dizia: “As almas não são enterradas. Elas pegam um voo.” A imagem é simples, mas poderosa: Andy partiu, e Piper precisa acreditar que, de alguma forma, ele a acompanha.
Já Laura, afogada no próprio luto, encarna a máxima de C.S. Lewis: “O luto é como um lugar deserto onde não há saída.” Em vez de atravessar esse deserto, ela se deixou consumir por ele.
O filme é sobre como o amor pode se corromper quando vira obsessão. Sobre como a recusa em aceitar a perda pode transformar mãe em monstro. E, no fundo, é também um aviso: às vezes, o verdadeiro horror não está nos mortos, mas no que os vivos são capazes de fazer para não deixá-los ir.
Resumo rápido do final:
-
Andy morre afogado por Laura.
-
Piper quase é sacrificada, mas escapa ao tocar o lado materno da vilã.
-
Oliver/Connor se liberta da possessão.
-
Laura é encontrada em transe, agarrada ao cadáver da filha, derrotada pelo próprio luto.
E é isso.

