Quer saber o que acontece no final do filme Jay Kelly?
Em Jay Kelly, Noah Baumbach pega um dos maiores astros do cinema (George Clooney) para interpretar… um dos maiores astros do cinema, em plena crise de identidade. Jay é aquele tipo de famoso que não consegue andar no aeroporto sem virar atração turística, mas, internamente, está mais perdido que extra da Marvel sem figurino.
Quando o mentor morre, o amigo ressentido reaparece e a filha mais nova decide trocar o pai por um mochilão na Europa, o castelo de ego do sujeito começa a rachar. O filme segue essa crise em modo tour europeu, misturando memórias, culpa, arrependimentos amorosos e um monte de gente que sacrificou a própria vida para manter “Jay Kelly™” brilhando.
Sinopse de Jay Kelly
Jay Kelly é um astro veterano de Hollywood, cercado de equipe, assessoria, manager, cabeleireiro com canetinha e todos os apetrechos do ofício. Ele está filmando mais um blockbuster quando recebe a notícia da morte de Peter Schneider (Jim Broadbent), o diretor que “descobriu” Jay e o colocou no mapa.
O luto vem acompanhado de outro fantasma: Timothy (Billy Crudup), amigo de juventude que perdeu o papel da vida para Jay lá atrás — depois de levar o colega para a audição. Jay saiu estrela, Timothy saiu figurante da própria biografia. De quebra, o astro também tem um passivo emocional do tamanho da filmografia: uma filha mais velha, Jessica (Riley Keough), ressentida por anos de ausência; e a caçula, Daisy (Grace Edwards), prestes a ir para a faculdade e muito mais interessada em viajar com amigos do que passar “último verão” com o pai.
Jay reage do único jeito que sabe: impulsivamente. Diz sim ao festival de cinema na Toscana que tinha recusado, larga o filme que ia rodar e decide seguir Daisy pela Europa, rastreando o cartão de crédito da garota como se fosse investigação policial. Arrasta junto o manager Ron Sukenick (Adam Sandler) e a publicista Liz (Laura Dern), que deixam família, filhos e até jogo de tênis decisivo para viver mais um surto do patrão.
No meio da viagem, o filme vai costurando flashbacks: o namoro com Daphne (Eve Hewson) num set antigo, a sessão de terapia armadilha com Jessica, conversas com o pai durão (Stacy Keach) e os tropeços de uma vida inteira escolhendo o trabalho em vez de qualquer outra coisa.
Final explicado Jay Kelly: como acaba?
Vamos lá.
O festival na Toscana e a grande surra de realidade
Jay chega à Itália com a imagem pública em rotação de micro-ondas:
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apanha de Timothy (ou bate nele – o filme corta, mas o olho roxo entrega a treta);
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vira notícia por causa da acusação de agressão;
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em seguida, cai na graça da internet ao correr atrás de um ladrão de bolsa e ser filmado como herói.
Enquanto isso, a vida ao redor dele entra em colapso silencioso:
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Ron perde outro cliente, o ator Ben Alcock (Patrick Wilson), que se cansa de ser “plano B” atrás de Jay e manda o manager embora;
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Liz decide que não vai repetir o roteiro de sempre e volta para casa, deixando um beijo em Ron que é menos traição e mais um “se cuida, por favor, para de morrer por esse cara”.
Jay segue para o festival esperando um grande acerto de contas emocional: sonha com as filhas na plateia, com o pai, com uma plateia que o ama por “quem ele é de verdade”. Na prática:
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Daisy e Jessica recusam o convite;
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quem aparece é o pai, que sequer aguenta ficar até o fim;
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Jay termina a noite vagando pela floresta, falando com o nada e tentando telefonar para Jessica, que já aprendeu a sobreviver sem esse homem.
É um desfile de “poderia ter sido diferente” condensado num fim de semana.
Ron corta o cordão umbilical (ou tenta)
Ron, que sacrificou férias, casamento e até pedido de noivado por causa de Jay, também chega ao limite. Ele verbaliza o que o filme inteiro grita:
“Você é Jay Kelly. Mas eu também sou Jay Kelly.”
Ou seja: a persona pública do astro só existe porque um batalhão de gente abriu mão de várias vidas para mantê-la em pé.
Ron decide romper a parceria profissional depois do festival. Topa ficar para a homenagem, mas avisa: depois disso, acabou. Quando Jay pede que ele fique porque é “a pessoa que ele mais quer lá”, Ron responde com aquela facada curtinha:
“Eu sou o único que está aqui.”
Tradução: ninguém mais aguenta te acompanhar, meu amigo.
O tributo, o “rebobinar” mental e a frase final
Na sessão do festival, Jay assiste a um reel de carreira que é praticamente a filmografia de George Clooney: golpes, galãs, dramas, astronauta melancólico, barba grisalha, tudo ali em 40 anos condensados.
Enquanto o vídeo passa, o filme faz um truque importante:
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rostos do passado aparecem na plateia (Timothy, Peter, Daphne, o Jay jovem);
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memórias se misturam com fantasia: vemos uma cena doméstica em que Jay, mais novo, se prepara para sair para um trabalho e decide ficar para ver as filhas fazendo um showzinho no quintal.
Só que esse “decide ficar” tem gosto de e se…. O olhar dele entrega: aquilo parece mais o que ele gostaria de ter feito do que o que realmente aconteceu.
Quando o tributo acaba, aplausos, lágrimas, câmera em close. E Jay solta a frase que Baumbach construiu o filme inteiro para chegar:
“Can I go again? I’d like another one.”
(“Posso ir de novo? Eu queria mais uma.”)
Ele não está falando do take. Está falando da vida.
Jay não tem como rebobinar décadas de ausência, egotrip e decisões erradas. Mas a pergunta carrega o subtexto: se eu pudesse, eu faria diferente. E, na lógica menos cruel do filme, ainda dá para fazer diferente daqui pra frente — se ele realmente quiser.
Qual o significado de Jay Kelly
No fundo, Jay Kelly é um filme sobre o custo de viver como marca registrada.
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Existe o Jay pessoa: garoto do Kentucky que queria ser ator, se apaixonou em set, teve filhas, podia ter sido um pai e um parceiro razoável.
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E existe o Jay™: rosto em cartaz, produto em festival, motivo de rider com cheesecake e entourage acorrentado ao sucesso dele.
O filme pergunta o tempo todo: em que momento um engoliu o outro?
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A cena do banheiro no trem, em que ele repete o próprio nome, parece exorcismo de branding: ele precisa lembrar quem era “Jay Kelly” antes de ser o nome na marquise.
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As conversas com Timothy mostram o lado B do sonho: para cada astro que “deu certo”, tem uma fila de quase-famosos que ficaram no caminho;
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As relações com Ron e Liz escancaram como a indústria cria vínculos codependentes em que todo mundo vive em função da estrela e ninguém cuida de si.
O final não é sobre redenção mágica. É sobre um sujeito que finalmente enxerga a própria biografia sem corte de iluminação:
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admite (ainda que tarde) que falhou como pai,
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percebe que feriu amigos,
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e descobre que, se quiser ser “ele mesmo”, vai ter que começar do zero aos 60 e tantos — sem roteiro pronto, sem dublê, sem trailer climatizado.
Jay Kelly encontra felicidade no final?
Não. E é aí que o filme funciona.
Baumbach não entrega:
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filhas perdoando em slow motion;
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ex-amor largando tudo para viver na Toscana;
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manager voltando arrependido para mais 20 anos de escravidão emocional.
O que ele entrega é algo menor e mais honesto:
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um homem que reconhece a dor que causou,
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sente a falta de tudo o que perdeu,
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e, ainda assim, tem um amanhã para tentar fazer diferente.
A felicidade, se vier, vai ser fora de quadro, no dia seguinte, sem tapete vermelho — do jeito que a vida real costuma ser.
O que acontece com Ron depois do final?
O filme não mostra, mas o arco dele é quase mais importante que o do Jay:
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Perde Ben, o cliente “saudável”;
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decide encerrar com Jay profissionalmente;
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tenta equilibrar, pela primeira vez em décadas, a própria família com a devoção ao astro.
Ron é o lembrete de que o “parasita emocional” aqui não é só fama: é qualquer relação em que você se apaga completamente pelo outro. Se Jay precisa aprender a ser pessoa e não só estrela, Ron precisa aprender a ser mais que sidekick.
E Jessica e Daisy?
As duas filhas representam dois estágios de dano colateral:
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Jessica: a que já viu o suficiente, fez terapia, encarou as cicatrizes e entendeu que vai ficar bem sem o pai. Ela aceita falar com ele, mas não vai oferecer o tipo de perdão mágico que Hollywood adora.
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Daisy: a que ainda está em processo, oscilando entre precisar do pai e querer distância. O fato de ela preferir a viagem com amigos a um tour forçado com Jay diz tudo sobre as prioridades afetivas que ele ajudou a construir (ou não construir).
O filme não garante reconciliação; garante apenas que, pela primeira vez, Jay está de frente para o estrago inteiro.
Onde assistir Jay Kelly
O filme Jay Kelly está disponível na Netflix, com George Clooney estrelando e Noah Baumbach na direção e roteiro (ao lado de Emily Mortimer).
e é isso


