Imagine se você morresse e, ao invés de encontrar nuvens e harpistas, fosse parar numa espécie de rodoviária cósmica cheia de ex-namorados e burocracia emocional. Pois é exatamente esse o ponto de partida de Eternity, a nova comédia romântica fantasiosa e filosófica da A24 — aquela produtora indie que consegue fazer até o céu parecer conceitual.
Com Elizabeth Olsen, Miles Teller e Callum Turner, o filme chegou aos cinemas americanos no fim de novembro, mas já tem cheiro de queridinho cult natalino. E o melhor? Tem alma. Literalmente.
Qual é a história?
Tudo começa com Larry (Teller), um velho ranzinza que morre engasgado com um salgadinho (o que já diz muito sobre a vida dele). No pós-vida, ele é recebido pela coordenadora Anna (Da’Vine Joy Randolph), que explica que ele está no “Hub”, uma espécie de purgatório hipster onde você escolhe com quem e onde passar a eternidade — mas atenção: a escolha é final. Se mudar de ideia depois? Você vai direto para o Void. Sim, um limbo eterno com vibes de repartição pública em loop.
Logo depois, sua esposa Joan (Olsen) também morre e aparece por lá, só que com um plot twist: ela reencontra Luke (Turner), seu primeiro amor, morto décadas antes na Guerra da Coreia — e que passou 67 anos esperando por ela naquele lugar. Resultado? Triângulo amoroso interdimensional.
Joan ganha um “visto especial” pra testar duas eternidades: uma com Luke nas montanhas dos sonhos e outra com Larry numa praia nostálgica. Spoiler: nenhum paraíso é perfeito, e as dúvidas existenciais surgem como mosquitos no verão.
❤️ Personagens e atuações: além da vida, mas com química
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Elizabeth Olsen entrega uma atuação sutil e encantadora, navegando entre nostalgia, culpa e descoberta com aquela doçura meio amarga que só os grandes amores perdidos evocam.
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Miles Teller dá vida ao Larry com cinismo e ternura, equilibrando sarcasmo com sinceridade.
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Callum Turner convence como o galã do passado — bonito, intenso, e talvez idealizado demais.
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Da’Vine Joy Randolph rouba a cena como a coordenadora da morte com crises de propósito profissional.
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John Early e Olga Merediz adicionam o toque de humor nonsense necessário pra deixar tudo mais excêntrico.
Uma comédia romântica com existencialismo acessível
Eternity é como O Céu Pode Esperar encontra The Good Place com pitadas de Woody Allen (felizmente sem o próprio). Mas diferente das comédias românticas padrões, aqui o foco não é só “com quem ficar”, e sim o que define uma vida bem vivida. Seria o primeiro amor, eterno e inacabado? Ou a rotina cheia de momentos pequenos e reais com alguém que dividiu contas, crises e cafuné?
O filme brinca com o conceito de “alma gêmea” como se fosse um processo seletivo: entrevistas, amostras grátis e a possibilidade de arrependimento — mas com consequências cósmicas.
Visual, trilha e clima
A direção de David Freyne acerta o tom entre o fantástico e o cotidiano, com um design de produção colorido, vibrante e levemente retrô. O “Hub” parece um cruzamento entre o Metrô de Paris, a Estação Central de Soul e um hotel boutique com iluminação vintage. A trilha de David Fleming dá o toque melancólico ideal sem pesar a mão.
Pontos fracos?
Sim: o segundo ato dá uma leve arrastada. Como disse Pete Hammond (Deadline), tem momentos em que “parece uma eternidade”. Mas o charme do elenco e os dilemas existenciais seguram a onda até o desfecho, que é doce, agridoce e absurdamente satisfatório.
Veredito: Vale a pena assistir Eternity?
Se você curte romances com alma (em todos os sentidos), diálogos afiados e reflexões leves sobre escolhas de vida e morte, Eternity é uma joia rara. Ele questiona com humor e ternura o que realmente importa no final: o amor arrebatador ou o amor cotidiano?
️ Nota David: 8.2/10
Uma comédia romântica que faz rir, chorar e querer ligar pra aquele ex que te fazia chá quando você tava gripado.
Ideal pra fãs de Her, The Good Place, ou qualquer um que já se perguntou: “e se…?”

