Ah, a diva pop. Uma entidade poderosa, um ícone cultural que moldou a música, a moda e a ousadia. Mas no cinema… bem, no cinema, a história de Madonna é mais parecida com um filme de terror trash do que com um clássica premiado. Se existe um consenso científico no universo da crítica, é que a Rainha do Pop é, objetivamente, uma atriz ruim. Uma tragédia de interpretação que rendeu dois prêmios (ou seriam castigos?) no Framboesa de Ouro de Pior Atriz.
Qualquer diretor que a contrate sabe que está flertando com o desastre. Mas, no caso de Abel Ferrara, o problema não foi a falta de talento inerente de Madonna, mas sim a sua genial e destrutiva estratégia de relações públicas. O resultado? Um filme que afundou nas bilheterias e um ódio que dura mais de três décadas.
O Cenário do Crime: Dangerous Game (1993)
Em fevereiro de 1993, Abel Ferrara, um diretor cult e bullish (aquele tipo de autor que não leva desaforo para casa e tem uma filmografia intensa, incluindo uns softcore no currículo), estava filmando seu décimo longa-metragem (ou nono, se você for puritano): Dangerous Game (conhecido como Snake Eyes em alguns lugares).
Ele escalou Madonna para o papel de Sarah Jennings, uma atriz em um filme sobre filmmaking. A essa altura, Madonna já tinha colecionado Razzies e indicações suficientes para garantir que seu status de má atriz era irreversível. Mas Ferrara, na sua arrogância de autor, acreditava que ela estaria à altura do papel.
O que ele não esperava era ser vítima do marketing de autopreservação da popstar.
O Plano Diabólico de Madonna: Bater Antes que Batam em Você
Madonna estava cansada. Cansada das surras da crítica que vinham desde Quem É Essa Garota? até a bomba erótica Corpo em Evidência (Body of Evidence), que havia chegado aos cinemas dez meses antes de Dangerous Game. Ela sabia que os críticos estavam com a faca e o queijo na mão para destruí-la novamente.
Sua estratégia? Autossabotagem preventiva.
Antes mesmo do filme de Ferrara ser lançado, Madonna desferiu o golpe:
“Eu não acho que deveria ser chamado de Dangerous Game, deveria ser chamado de ‘O Diretor Ruim’.”
Sim, ela acusou Ferrara de sabotar sua performance, dizendo que ele a havia deixado em lágrimas após uma exibição preliminar.
A Mágoa Eterna de Abel Ferrara
O plano de Madonna foi, ironicamente, um sucesso para ela e um desastre para o filme.
O diretor Abel Ferrara ficou, para dizer o mínimo, puto.
Ele viu o buzz limitado que o filme tinha simplesmente evaporar. Ninguém queria assistir a um filme que a própria estrela estava atacando publicamente. O longa bombou nas bilheterias.
Em uma entrevista ao The AV Club, Ferrara desabafou:
“Madonna matou o filme. A primeira impressão que as pessoas têm de um filme é aquela que nunca sai de suas mentes. Então, depois que Madonna foi tão detonada por fazer Corpo em Evidência, ela pensou que ia bater nos críticos primeiro e falar mal do filme. E ela realmente teve boas críticas!”
A Ironia da Vingança: Boas Críticas para a Má Atriz
A cereja podre do bolo? Madonna se safou. O filme, que ela mesma rotulou como lixo, recebeu algumas das críticas mais favoráveis de sua carreira como atriz. O que era para ser mais um Framboesa de Ouro passou batido.
Enquanto isso, Ferrara, que trabalhou no projeto, viu sua obra ser soterrada pelo veneno da estrela.
“Ela nunca conseguiu uma crítica boa do The Voice ou do The New York Times na vida, mas conseguiu boas críticas por este filme, que ela saiu e destruiu”, desabafou Ferrara. “Eu nunca a perdoarei por isso.”
É o auge do humor ácido da cultura pop: A atriz, cansada de ser chamada de ruim, ataca seu próprio filme, destrói sua bilheteria, mas se salva da crítica. Ferrara ficou com o prejuízo financeiro e emocional, e o público com a impressão de que a Rainha do Pop era apenas uma colega de trabalho tóxica, mas, desta vez, minimamente competente em cena.
Uma lição valiosa para Hollywood: nunca subestime a capacidade de um popstar em proteger a própria imagem, mesmo que isso signifique sacrificar toda a equipe de produção.

