Crítica: Don’t F**k With Cats: Uma Caçada Online (2019)

As produções originais da Netflix geram grandes debates entre os consumidores da plataforma. Enquanto o serviço de streaming concebe séries de sucesso como The Crown, Stranger Things e The Dark, muitos filmes deixaram a desejar, embora O Irlandês e História de um Casamento façam parte de uma safra elogiada e premiada. Já as séries documentais fazem parte da parcela de sucesso da Netflix. Gênio Diabólico e The Keepers são exemplos bem-sucedidos do gênero. No final de 2019, Don’t F**k With Cats: Uma Caçada Online entrou para o time, com três episódios.

Tudo começa com o post de um vídeo em que um rapaz maltrata dois filhotes de gato. É importante informar que o documentário não mostra os vídeos por inteiro, mas há a descrição do que é feito aos animais, e isso pode causar incômodo. Como diz uma das entrevistadas, há uma regra implícita na internet que é “Não mexa com os gatos”. Sendo assim, após o vídeo ser postado, um grupo de pessoas passa a se mobilizar para que o autor do vídeo seja encontrado e punido. O que ninguém esperava era o rumo que a narrativa tomaria.

O primeiro passo é descobrir a localização do autor do vídeo. Tudo pode ser uma pista: aspirador de pó, cobertor, embalagem de cigarro ou móveis. A direção de Mark Lewis conduz o espectador a cada passo de Deanna Thompson e John Green, dois dos principais nomes que mantinham um grupo para discussões e denúncias a respeito do, até então, desconhecido autor dos vídeos. Sim, “vídeos”, no plural, porque pessoas com esse perfil gostam de atenção e precisam dela para continuar agindo, e o nível de crueldade não para de crescer. Fica evidente que, em algum momento, o perverso homem dos vídeos vai matar um ser humano, e a polícia deve ficar ciente dessas ações.

A partir disso, surge também um questionamento sobre o nosso posicionamento perante as redes sociais. É válido se perguntar o limite da nossa individualidade e da importância que o nosso discurso na internet pode ter. O que escrevemos pode influenciar o próximo de maneira negativa ou positiva, e até onde somos responsáveis pelos atos do próximo? E, mais: até onde a nossa segurança é preservada quando se bate de frente com alguém que não conhecemos, mas que sabemos que oferece perigo? A exposição da internet é uma faca de dois gumes: podemos rastrear, mas também somos rastreáveis. 

É curioso observar também como somos facilmente identificáveis, a partir de vícios de linguagem e/ou características próprias no modo de nos expressar. Um perfil fake é muito previsível. 

Com o rapaz identificado, conhecemos sua mãe e testemunhamos sua angústia em ter que lidar com coisas jamais imaginadas por alguém que cria um filho. Ninguém deveria ter que passar por tal situação, porém a realidade é ainda mais cruel dor que podemos imaginar.

Mas o melhor de tudo ainda está por vir, porque o andamento dessa história parece filme, e não é exagero. Embora, ao longos dos três episódios, a minissérie trate de segurança, exposição da internet, crueldade, entre outras coisas, é o perfil do criminoso o que, de fato, mais surpreende. Nada prepara o espectador para aquele grau de complexidade e a surpresa é certa. Don’t F**k With Cats: Uma Caçada Online é uma grata surpresa para quem gosta de narrativas sobre criminosos cruéis e impiedosos.