A investigação de qualquer crime, para desvendar o autor, procura a motivação para tal ato. Dinheiro, por exemplo, é um motivo comum para que as pessoas se percam em suas ações e passem por cima de todos, ignorando o valor da vida do próximo. Mas o ótimo A Noite do Dia 12 (La nuit du 12), filme do francês Dominik Moll, em cartaz nos cinemas, deixa claro, desde o início, o que fez com que a jovem Clara (Lula Cotton-Frapier) fosse cruelmente assassinada nos primeiros minutos do longa: ela era uma mulher.
Linda, jovem, sexualmente ativa e gozando da própria liberdade, Clara morre de uma maneira muito cruel, queimada. Os investigadores Yohan (Bastien Bouillon) e Marceau (Bouli Lanners) se empenham em encontrar o criminoso partindo de um suposto motivo, mas a verdade, escancarada por uma amiga da vítima, é essa, Clara morreu por ser mulher.
A direção precisa de Dominik Moll pode pregar algumas peças no espectador e trazer à tona a normalização de um comportamento machista e ultrapassado. Quando o pai da vítima diz aos investigadores que a filha morava em sua casa, mas que nem sempre ficavam lá porque ele e a esposa a criaram de maneira livre e preferiam não prender a jovem, a gente pode pensar “Está aí o problema, foram irresponsáveis, deixaram a filha exposta ao perigo” e isso só mostra a profundidade do problema. Errado é quem comete um crime, não quem desfruta da liberdade e, muito menos, de quem entende o direito dos próprios filhos.
Ao longo do thriller, vemos que Clara teve diversos parceiros sexuais e cada um deles tinha uma visão diferente da relação que mantinha com a vítima, mas todos tinham ciência de que Clara era uma mulher sexualmente resolvida. Em uma sociedade como a nossa, isso pode ser perigoso.
Yohan e Marceau abraçam o caso e se dedicam, cada um à sua maneira, a desvendar o mistério que cerca o assassinato de Clara, mas a verdade é que não se passa por um caso como esse inócuo. Há consequências. No meio desse caos, o roteiro de Gilles Marchand e Dominik Moll consegue seus momentos de leveza e encontra em Marceau o alívio cômico que precisava sem perder o respeito pela história.
O desenvolvimento da dupla de investigadores também enriquece a trama. Enquanto Yohan se deixa consumir pela aflição causada por não encontrar o assassino o quanto antes, Marceau reflete sobre a sua vida pessoal e carreira, questionando as suas motivações e o que pode trazer felicidade a ele.
O filme é baseado no livro 18.3. Une année à la PJ (sem edição em português) de Pauline Guéna, que acompanhou por um ano a equipe de polícia em Versalhes que investiga crimes diversos, mas foi um feminicídio, quase no fim do livro, o que chamou a atenção do cineasta.
Na principal premiação do cinema francês, o César, A Noite do Dia 12 ganhou seis prêmios, entre eles Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator Coadjuvante (Bouli Lanners), além de receber outras quatro indicações.
A Noite do Dia 12 é distribuído pela Pandora Filmes e chega aos cinemas no momento em que o true crime está em alta. O filme está em cartaz nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Niterói, Porto Alegre, Recife, Salvador e Vitória.

