review até a última gota

Review Até a Última Gota: Quando o inferno é real, tem fila e chama Tyler Perry

Se você achava que nada podia ser pior do que segunda-feira de manhã, é porque não assistiu Até a Última Gota. Tyler Perry, aquele mesmo das 17 funções por filme (roteirista, diretor, produtor, terapeuta das atrizes depois da filmagem), entrega aqui mais um thriller emocional que parece ter sido escrito durante uma tempestade de raiva. Sério. A chuva não para. O sofrimento também não.

Taraji P. Henson é Janiyah, uma mãe solo que não tem um minuto de paz. A mulher acorda no caos, vive o caos e dorme (quando consegue) no caos. São três empregos, um apartamento que parece decorado por depressão, uma filha com problemas de saúde e um patrão que deve ter saído direto do RH do inferno. Ah, e tem um policial que joga café gelado no carro dela e promete estourar os miolos dela “legalmente”. Que fofo!

O filme é como um bingo da tragédia. Alguém vai perder o emprego? Check. Vão levar a criança da escola? Check. Vai chover torrencialmente no pior momento possível? BINGO. Tem até plot twist com assalto, assassinato e um caixa de supermercado virando palco de drama shakespeareano. Tudo isso em menos de duas horas.

A direção? Funcional. O roteiro? Parece que foi escrito no modo “e se tudo desse MUITO errado?”. Mas Taraji segura a bronca. Aliás, ela não segura: ela carrega o filme nas costas como se estivesse levando as compras, a filha, a culpa, a revolta e o perrengue de gerações. E mesmo quando o filme tenta traí-la com viradas absurdas e moralismos questionáveis, ela ainda entrega dignidade.

Lá pelo terceiro ato, Até a Última Gota vira o primo perdido de John Q com uma pitada de E Se Fosse Verdade?, só que sem a leveza, a graça ou a lógica. Tem protesto na porta do banco, discurso sobre racismo institucional, crise de saúde mental, e claro, aquele momento Perry clássico em que a mensagem vem com marreta e trilha dramática.

E é aí que entra o verdadeiro twist: apesar de tudo, você não consegue odiar completamente o filme. Não é bom. Mas é… magnético. Como um acidente de trânsito narrativo do qual você não consegue desviar o olhar. Tyler Perry tem esse dom bizarro de transformar o sofrimento em entretenimento com gosto duvidoso e enorme engajamento.

No fim das contas, Até a Última Gota é o tipo de filme que você assiste e pensa: “Meu Deus, que tortura!” e logo depois completa: “Mas que mulher!”. Porque Taraji P. Henson merece um Oscar, um café quente e um spin-off em que ela vive feliz com a filha numa casa sem vazamento, patrão escroto ou roteiro do Tyler Perry.

Recomendo? Se você tiver estômago e uma garrafa de vinho. Mas já aviso: a última gota é sempre sua sanidade.