como treinar o seu dragão

Review Como Treinar o seu Dragão: Originalidade não é o forte, mas funciona mesmo assim

O live-action de “Como Treinar o Seu Dragão” (2025) é aquele tipo de remake que vai te fazer perguntar: era mesmo preciso? Mas quando você menos espera, já está torcendo de novo pelo moleque magrelo e seu dragão com cara de gato do Shrek.

Dirigido por Dean DeBlois, o mesmo que co-dirigiu a animação de 2010, o filme é praticamente uma sessão de déjà vu cinematográfico. Sério. Tem cena que parece que foi copiada e colada frame a frame. Isso é ruim? Não necessariamente. Mas também não é uma reinvenção à la “Cinderela” ou uma releitura à la “Cruella”. Aqui, é tudo muito… familiar.

Mason Thames assume o papel de Soluço, o adolescente mais alérgico a tradições vikings desde que se inventou a barba trançada. Thames tem carisma e carrega bem o peso do protagonista, mesmo tentando, em alguns momentos, emular a voz de Jay Baruchel, da animação original. Do outro lado da equação emocional, temos Banguela, recriado com CGI de primeira e ainda com aquele charme de mascote nerd à procura de um dono. Os dois juntos continuam sendo a alma do filme. Se você não se emocionar quando eles voam ao som de “Test Drive”, procure ajuda. Ou um coração.

Nico Parker está convincente como Astrid, com aquele olhar de “sou durona mas secretamente apaixonada” bem afiado. Mas quem realmente brilha é Gerard Butler, que retorna como Stoico, o pai de Soluço. Se você achava que ver o rei de “300” vestido de viking pela segunda vez seria estranho, prepare-se para se surpreender: ele entrega emoção, autoridade e um calor paterno que equilibra as cenas mais clichê do roteiro. Ele e Nick Frost (como Gobber) formam uma dupla que rende risadas sinceras.

A trama segue o caminho clássico: vikings odeiam dragões, Soluço captura um, decide não matá-lo e acaba mudando tudo. A previsibilidade é parte do pacote, mas o que salva é o carinho com que tudo é refeito. Não estamos falando de uma reinvenção ousada como em “O Rei Leão” (2019), que trocou expressão por realismo a ponto dos personagens parecerem entediados. Aqui, a expressividade continua, mesmo com atores de carne, osso e barba postiça.

As pequenas novidades aparecem em personagens coadjuvantes: a anciã Gothi tem mais tempo de tela, e a dinâmica entre Snotlout e seu pai Spitelout ganha um subplot simpático, mas nada que mude a história drasticamente. A sensação é a de estar assistindo a uma versão teatral caprichada do que já conhecemos. Um reboot que não quer inovar, mas homenagear.

A trilha sonora, novamente comandada por John Powell, é outro ponto alto. “Test Drive” ainda dá aquele arrepio que sobe pela espinha e faz você lembrar por que essa história funciona. É amizade, é coragem, é aquele momento em que um menino e seu dragão desafiam o mundo juntos, voando entre montanhas e nuvens com trilha digna de Oscar (que não veio nem em 2010, nem agora).

Por fim, o live-action de “Como Treinar o Seu Dragão” não tenta reinventar a roda. Ele a limpa, passa um WD-40, pinta de dourado e entrega para a nova geração. Pode parecer redundante para quem viu (e reverenciou) a animação, mas funciona. Porque a história de Soluço e Banguela não é apenas boa: é universal. E se a criançada que ainda não conhecia agora sair do cinema apaixonada por dragões, missão cumprida.