O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica de Jurassic World: Recomeço possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
RECOMEÇO É UMA PALAVRA FORTE. No cinema, por exemplo, muitas vezes é apenas uma desculpa para tirar dinheiro do público — mas não é esse o objetivo de um produto, no final das contas? A arte encanta, mas precisa fazer o outro pagar as contas para ter seu valor. Qual o sentido do recomeço quando ele nada mais é que uma tentativa de espremer a essência do que já foi (espremido)? Pelo menos, foram sinceros. Jurassic World: Recomeço (Jurassic World: Rebirth, Gareth Edwards, 2025) é mesmo um recomeço daquela história com dinossauros matando humanos. Nunca tem como dar errado.
Em 2015, quando o “primeiro recomeço” chegou aos cinemas, nos deparamos com um produto muito divertido. Sem dúvidas. Mas sem coragem de ousar e desafiar a adaptação original. Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros repete a mesma estrutura e faz um remake disfarçado de continuação, que é um reboot. Você entende? Me explica depois, por favor. O novo Recomeço, para o bem ou mal, investe em uma premissa um pouco mais original. Mistura o clima de Jurassic Park III com uma homenagem nada convencional a Alien: O Oitavo Passageiro (Ou Ressurreição, para ficarmos nos Rs da coisa).
A trama mostra um grupo de mercenários contratados por uma empresa rica para encontrar três dinossauros específicos. O objetivo? Tirar o sangue dessas criaturas para desenvolver uma vacina que reduz o risco de morte para quem tem problemas cardíacos. No meio do caminho, a turma resgata uma família perdida no meio do mar e juntos, precisam sobreviver em uma ilha povoada por clones jurássicos que deram errado.
A sétima entrada da franquia iniciada por Steven Spielberg no começo dos anos 1990 é OK. Anos luz da bagunça frustrante do filme anterior, Recomeço é uma autêntica sessão da tarde, com seus méritos e problemas. Penso que ninguém, exceto Terrence Malick, cria uma narrativa séria usando dinossauros. Por isso mesmo, me permiti entrar no modo pipoca e encarar duas horas insanas com dinossauros carnívoros vingativos.
Inclusive, mesmo em um filme bobo, Scarlett Johansson mostra exatamente o quanto é completa. Como Viúva Negra, ela sempre ficou na linha tênue de um trabalho sério com a galhofa. Até então, exceto, talvez por Lucy, a atriz nunca havia enfiado o pé na jaca com tanta vontade. Zora é uma personagem clichê do cinema de ação. Nas mãos de outra mulher, a gente provavelmente xingaria a direção, o roteiro e a atriz. Mas Johansson dá todo o charme necessário para criar uma heroína forte o suficiente para conduzir a narrativa.
Exageros à parte, existe um trunfo que nem mesmo o mais ávido detrator dos dinossauros pode tentar rebater. Edwards cria várias sequências tensas. Daquelas que tornam Jurassic World: Recomeço a opção perfeita para quem deseja ter motivos para encostar na sua companhia (se é o primeiro encontro, vai fundo! No fim da noite, talvez virem o próprio T-Rex do amor um do outro). Como não podia deixar de ser, é o dino do bracinho que assume o protagonismo de um dos melhores momentos da produção. Quando acaba, você até respira aliviado — e com alguém no seu colo. Ou você no colo da pessoa.
Jurassic World: Recomeço entrega o que promete. Entretenimento na base dos efeitos visuais, trilha sonora emocionante (Alexandre Desplat só precisa usar o tema do John Williams e ver a magia acontecer), vilões previsíveis (nem todo bilionário, mas sempre um bilionário), coadjuvantes carismáticos, piadinhas que combinam com pipoca, e, claro, um bando de arrombado sem educação conversando durante o filme todo. Se você for destemido, recomendo fortemente.

