Se doomscrolling é a experiência de afundar em um mar de más notícias, Rua do Medo: Rainha do Baile é o equivalente cinematográfico: uma sucessão de clichês dos anos 1980 costurados com tanto desleixo que até os fantasmas de Shadyside pareceriam entediados. Escrito por Donald McLeary e dirigido por Matt Palmer, o filme tenta invocar o espírito do slasher retrô mas termina possuído pelo demônio do tédio. É como se alguém jogasse Carrie, A Estranha, Pânico e Meninas Malvadas num liquidificador quebrado — e servisse o resultado quente.
A história se passa em 1988, entre os eventos de Rua do Medo: 1978 e 1994, mas esquece completamente o charme sangrento e a construção de mitologia que fizeram da trilogia original um sucesso. Aqui, temos Lori Granger (India Fowler), uma tímida aspirante a rainha do baile tentando escapar do legado manchado da sua família — e da insuportável Tiffany (Fina Strazza), líder da matilha das “Mean Girls” locais. Adicione um romance forçado com o galã de geladeira Tyler (David Iacono), uma melhor amiga esquisita (Suzanna Son tentando dar carisma a um roteiro sem alma) e uma série de mortes que parecem copiadas de um jogo de The Sims versão gore. Pronto: você tem um filme que soa menos Fear Street e mais Forget Street.
O maior crime cometido aqui não é a ausência de sustos ou a previsibilidade das mortes. É a falta de personalidade. Os personagens são tão unidimensionais que parecem saídos de uma IA programada para escrever fanfic de terror com base em capas de VHS. Fina Strazza entrega uma Tiffany que é pura caricatura, uma bully tão histérica que parece paródia de um reality show ruim. E o resto do elenco segue a mesma cartilha: ou são odiosos, ou são burros, ou ambos — o que, claro, só nos faz torcer pelo assassino.
A direção de Palmer — que já mostrou fôlego no tenso Calibre — aqui parece um GPS quebrado: sem rumo, sem intensidade, e perdido entre dois tons que se sabotam o tempo todo. O filme não sabe se quer ser uma homenagem maliciosa ao slasher raiz ou uma comédia camp prom-esca, e termina sendo nenhum dos dois. Tenta abraçar o exagero, mas escorrega no melodrama. O resultado? Nem sangue o suficiente para agradar os fãs de gore, nem humor suficiente para justificar os arquétipos risíveis.
E se você esperava algum vínculo emocional com o universo já estabelecido da saga Rua do Medo, prepare-se para a decepção. A ligação com a maldição da família Fier aparece só numa preguiçosa cena pós-créditos — uma piscadela tão vazia quanto a expressão de Tyler durante o filme inteiro. Shadyside parece uma cidade genérica de qualquer outro slasher esquecível, e os anos 80 são tratados como uma fantasia brega de alguém que assistiu Stranger Things com o volume no mudo.
Há, sim, algumas mortes criativas — uma decapitação aqui, um esfaqueamento ali — mas nada com o impacto visceral ou estético que fez da cena do fatiador de pão em Rua do Medo: 1994 um marco no terror da Netflix. O CGI tenta compensar a falta de ideias, mas termina só destacando o quão derivativo o projeto é.
No fim, Rainha do Baile parece um daqueles convites de formatura onde prometem DJ, decoração de luxo e comida liberada — mas você chega lá e encontra uma caixa de som estourada, salgadinho vencido e o ex-namorado da sua amiga tentando dançar Footloose. A intenção pode até ser boa. Mas o resultado é dolorosamente genérico.
Nota final: Rua do Medo: Rainha do Baile é um daqueles filmes que fazem você olhar o relógio mais vezes do que a tela. Um exercício de nostalgia sem alma que não honra o legado da trilogia original. Neste baile, o terror não veio, mas a ressaca é garantida.

