10- As Virgens Suicidas (Virgin Suicides, Sofia Coppola, 1999) Coisas típicas da adolescência, como ir ao cinema com o namorado ou ficar na rua até tarde com as amigas, não fazem parte da rotina das irmãs Lisbon. Donas de uma beleza arrasadora, elas são criadas debaixo de um teto cheio de opressão e vivem sufocadas pela educação rígida que recebem dos pais.
A estreia na direção de Sofia Coppola não poderia ser mais marcante. Ela se mostra muito competente na adaptação do romance de Jeffrey Eugenides e o filme tem Kirsten Dunst no papel de Lux, uma garota que chama a atenção no colégio e almeja alcançar a liberdade que os adolescentes deveriam poder desfrutar.
Um retrato fiel de como o amor dos pais pode sufocar os filhos, caracterizar o desejo de poder e fazer com que adolescentes pensem em saídas trágicas ao invés de receber tratamento similar ao destinado a objetos de desejo e cobiça. (Graciela Paciência)
9- Monster: Desejo Assassino (Monster, Patty Jenkins, 2003) Charlize Theron (que também assumiu a função de produtora) encarna Aileen Wuornos, prostituta rodeada por violência, abuso e miséria, condições que contribuíram para sua transformação em uma famosa assassina em série. No tenso e fragmentado road movie temos apenas alguns respiros de afeto nos porres com seu único amigo Thomas (Bruce Dern) e nas fugas e passeios com a namorada Selby (Christina Ricci).
Os trejeitos assumidos na impressionante transformação da sempre bela Theron podem parecer um pouco forçados, mas se observarmos a real Aileen em documentários notamos como a performance honra o Oscar recebido pela atriz. A direção de arte minimalista ressalta a condição a qual estava submetida, entre sangue e muitas doses de álcool para aguentar a barra pesada. O enredo angustiante desconstrói a imagem de “monstro” da criminosa, executada em 2002 por uma (in)justiça alheia a toda empatia que passamos a sentir por essa mulher e por sua história. (Stephania Amaral)
https://www.youtube.com/watch?v=PR2uStE-0Mg
8- Sintonia de Amor (Sleepless in Seattle, Nora Ephron, 1993) Perto do Natal, o menino Jonah “força” seu pai viúvo, Sam Baldwin (Tom Hanks), a narrar a história do seu casamento em um programa de rádio de Seattle. O tocante relato chama a atenção de uma ouvinte em especial: a jornalista romântica Annie Reed (Meg Ryan).
Sintonia de amor traz um delicado retrato da relação entre pai e filho diante da morte prematura da mãe, mostrando que o luto é um processo doloroso para todos e que seguir em frente é um grande desafio.
Mesmo abordando um tema pesado, a narrativa é conduzida de forma leve e singela, sem jamais apelar a sentimentalismos. Mérito aos ótimos desempenhos de Tom Hanks e Meg Ryan que conseguem transparecer verdadeira sintonia – o que valeu o repeteco no bonitinho Mensagem para você.
A cena final do casal se encontrando no Empire State Building é pura poesia. Nem precisamos dizer da bela homenagem ao clássico Tarde demais para esquecer, uma das mais lindas histórias de amor produzida pelo cinema. (Juliana Uemoto)
7- Encontros e Desencontros (Lost in Translation, Sofia Coppola, 2003) O ator decadente Bob Harris (Bill Murray) está gravando um comercial no Japão e passa as noites em claro por causa do fuso horário. Em uma destas noites, conhece a jovem solitária Charlotte (Scarlet Johansson) que acompanha o marido fotógrafo em uma turnê de trabalho.
Este encontro entre pessoas solitárias em um país tão distante como o Japão, especialmente por sua cultura, reforça o sentimento de isolamento e a falta de comunicação que permeiam a maioria dos relacionamentos.
Sofia Coppola derrama toda sua genialidade ao colocar àquelas pessoas num cenário desconhecido. Os passeios pela cidade de Tóquio representam esse mergulho nos mistérios de cada um e o deleite das descobertas. Curiosamente é muito agradável ver Bill Murray e Scarlet Johansson interpretando este casal improvável, cujo desconforto inicial é substituído por um sentimento que os acalenta mutuamente. (Juliana Uemoto)
6- Meninos Não Choram (Boys Don’t Cry, Kimberly Peirce, 1999)
O caminho para a abordagem do transexualismo ainda vem sendo traçado aos poucos. Mas foi com muita coragem que a americana Kimberly Peirce colocou nas telas a história real de Brandon Teena, que era identificado biologicamente como mulher, mas vivia e se apresentava como homem.
No papel principal, Hilary Swank brilhou de maneira única no filme. A curta trajetória de Brandon é um retrato fiel do que a sociedade pode causar aos indivíduos que não seguem as regras impostas pelo conservadorismo. É real, triste, dilacerante e doloroso. (Graciela Paciência)
5- Quero Ser Grande (Big, Penny Marshall, 1988) Josh, um menino de 12 anos, pede a uma máquina dos desejos para se tornar um homem de 30 anos. No dia seguinte, acorda e percebe que seu pedido foi atendido. Agora ele será obrigado a conviver no universo dos adultos.
Filme responsável por alavancar a carreira do então jovem Tom Hanks e lhe garantir sua primeira indicação ao Oscar. O ator é o grande responsável pelo sucesso da narrativa, transmitindo o tom certo para interpretar o papel do menino-adulto Josh. É um deleite conferir o ar ingênuo e a cara de surpresa do protagonista a cada nova descoberta.
Até hoje Quero Ser Grande é um dos pontos altos da trajetória do talentoso ator. O trecho em que toca um piano gigante com os pés numa loja de brinquedos é memorável e já faz parte da história do cinema! (Juliana Uemoto)
4- Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need to Talk About Kevin, Lynne Ramsay, 2011)
A maternidade é um tema que incomoda porque a maioria das pessoas acredita que ela é desejada por todas as mulheres, o que é um grande equívoco. Além disso, há a crença de que todas as mulheres possuem instinto materno e “vocação” pra maternidade. Quem não se enquadra nesse papel, muitas vezes é julgado e questionado, mas raramente o lado ruim da maternidade é abordado.
Considerando esses fatores, o que fazer quando você engravida sem planejar e não sente aquela conexão tão comentada por todos com o seu filho? Como não se sentir culpada por um ato terrível cometido por ele? E o mais difícil, como deixar claro para a sociedade que você realmente não é culpada pelos atos cometidos pelo seu filho?
No filme de Lynne Ramsay, adaptação do livro de Lionel Shriver, Tilda Swinton dá um show e mostra, mais uma vez, que nasceu para ser artista. No papel de Kevin, Ezra Miller surpreende e exibe uma performance digna de admiração. (Graciela Paciência)
3- Que Horas Ela Volta? (Anna Muylaert, 2015) Val é uma pernambucana que veio para São Paulo ganhar a vida deixando sua filha, Jéssica, em sua cidade natal. Ela passa a morar na casa dos patrões, onde é doméstica e babá do filho do casal, Fabinho. Anos depois, sua filha lhe procura para ir a São Paulo prestar vestibular; os patrões de Val a aceitam em casa de braços abertos, até a menina começar a quebrar os protocolos.
Um roteiro tocante que trabalha a questão de classes a partir de uma mulher pobre, nordestina, que deixa a própria filha para traz pra cuidar do filho dos outros. A forma como ela é submissa e como a filha a ajuda a desconstruir vários preconceitos que tem com si própria é encantador e empoderador. Fotografia delicada, trilha sonora perfeita para o tema do filme e um elenco de primeira. (Natália Ranhel)
Que Horas Ela Volta? foi eleito pelo Cinema de Buteco como um dos melhores filmes de 2015.
2- Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, Jonathan Dayton e Valerie Faris, 2006)
Família disfuncional atravessa o país dentro de uma Kombi para levar a caçula a um concurso de beleza. A viagem vai provocar uma série de acontecimentos e reviravoltas que transformarão suas vidas para sempre.
Este road movie de humor tragicômico aborda algumas questões latentes da sociedade norte-americana, como o “loser” representado pelo pai que ministra palestras de autoajuda sem sustentar o que vende; o avô usuário de drogas; o tio homossexual que tentou o suicídio; o filho sociopata que fez voto de silêncio; a mãe alienada que finge que está tudo bem e, claro, a caçula da família que é a única personagem que se salva. A pequena representa essa ingenuidade necessária para a vida e é o elemento aglutinador dessa sociedade desmantelada.
Há ainda a crítica a esses concursos de beleza infantis. Verdadeiros shows de horrores criados para suprir as vaidades das mães em detrimento ao bem-estar de suas próprias filhas. A cena da pequena Abigail Beslin apresentando sua coreografia é puro sarcasmo! (Juliana Uemoto)
Pequena Miss Sunshine está na nossa lista de 51 Melhores Filmes dos Anos 2000.
1- Psicopata Americano (American Psycho, Mary Harron, 2000)
A adaptação do livro de Bret Easton Ellis é dirigida pela canadense Mary Harron e mostra as loucuras do rico, mimado e excêntrico Patrick Bateman. Ele não suporta o fato de não poder ser o melhor em tudo e um simples cartão de visitas de um amigo desencadeia uma série de impulsos que torna Bateman um assassino descontrolado.
A tensão está presente em boa parte do filme e deixa o espectador eletrizado. Christian Bale está no papel principal e permite aflorar todo o cinismo e falsidade que Bateman usa constantemente. Reese Whiterspoon, Willem Dafoe e Jared Leto completam o time responsável por fazer de Psicopata Americano um clássico cult apenas 17 anos após seu lançamento e merecidamente o primeiro colocado na nossa lista de melhores filmes dirigidos por mulheres. (Graciela Paciência)











