final explicado herege

Final explicado Herege: Entenda o desfecho enigmático do terror teológico da A24

Herege, da A24, não é apenas mais um terror com cara de Sundance. É um filme que coloca fé, teologia e poder num liquidificador existencial e serve um smoothie de angústia com gosto de dúvida. Dirigido por Scott Beck e Bryan Woods (os roteiristas de Um Lugar Silencioso), e com Hugh Grant num papel que mistura charme britânico com psicopatia doutrinária, o filme é uma espécie de Jogos Mortais teológico: em vez de armadilhas mecânicas, temos armadilhas ideológicas.


O que acontece em Herege?

Vamos lá.

Sister Paxton (Chloe East) e Sister Barnes (Sophie Thatcher), duas missionárias mórmons, batem à porta errada: a do refinado e suspeitíssimo Mr. Reed (Hugh Grant). O que começa como uma conversa educada sobre fé vira um experimento sinistro: Reed quer provar que a religião é uma ilusão — e que a fé cega merece punição.

O jogo dele envolve um “teste de portas” com opções entre “Crença” e “Descrença”, uma falsa ressurreição com torta de mirtilo envenenada, e mulheres enjauladas no porão como se fosse um culto bizarro do Pinterest. Tudo arquitetado para quebrar espiritualmente as protagonistas.


Afinal, Sister Barnes morreu ou não?

Essa é a pergunta que Herege planta como semente e colhe no terceiro ato. Após ter a garganta cortada, Barnes reaparece para salvar Paxton no momento final, golpeando Mr. Reed. Milagre ou último suspiro? A ambiguidade é intencional: ou ela sobreviveu com força suficiente para um último ato heroico, ou é uma visão que Paxton tem antes de morrer — sua fé recompensada no limiar entre a vida e o além.


E a borboleta? Sim, aquela cena final!

Lá no começo do filme, Paxton comenta que sua visão do pós-vida é simples: virar uma borboleta e pousar na mão de alguém que ama, só para dizer que está tudo bem. Pois bem, depois de escapar da casa de Reed (ou acreditar que escapou), uma borboleta pousa em sua mão. Poético. Simbólico. E totalmente aberto à interpretação.

A borboleta pode ser:

  • A alma de Sister Barnes, dizendo “eu te salvei”;

  • Um sinal divino, validando que há algo além da morte;

  • Um delírio de Paxton moribunda, vendo o que quer acreditar.


O monólogo do Monopoly: religião como franquia de tabuleiro

Um dos momentos mais deliciosamente insuportáveis do filme é o discurso de Reed comparando religiões ao jogo Monopoly. Para ele, cada religião é uma versão atualizada (e piorada) da anterior, como uma sequência desnecessária de franquia. A crítica é clara: instituições religiosas seriam menos sobre fé e mais sobre poder e controle — algo que ele próprio incorpora com sua doutrina pessoal do sadismo teológico.


Quem eram as mulheres na cela?

Elas são a plateia silenciosa do culto de Reed. Mulheres que ele “quebrou” ao longo dos anos com seus jogos de fé. Uma alusão direta à ideia de que, quando a religião é usada como controle, ela não liberta — ela aprisiona. Reed as chama de discípulas, mas são vítimas de seitas, de manipulação e da vaidade de um homem obcecado em brincar de deus.


Mas qual é o sentido do final?

O filme termina com Paxton sozinha, ferida, possivelmente delirando, talvez salva. A borboleta pousa. O cover de Knocking on Heaven’s Door começa. E tudo que nos resta é a dúvida: será que ela sobreviveu? Foi recompensada por sua fé? Ou tudo é ilusão?

O que Herege deixa claro é que o verdadeiro horror não está na dúvida, mas na certeza absoluta. É um filme sobre fé como resistência — mesmo quando tudo diz que ela não faz sentido.


Veredito

Herege mistura Corra! com O Silêncio dos Inocentes, temperado com críticas religiosas ao estilo Darren Aronofsky. Não entrega sustos fáceis, mas deixa você pensando por dias. E talvez olhando diferente para cada borboleta que pousar na sua janela.