Quer entender o que acontece no fim de O Poço? O longa espanhol coloca os espectadores em uma prisão vertical onde uma plataforma cheia de comida desce pelos níveis, e os prisioneiros têm de comer o que sobra dos andares superiores.
É uma distopia grotesca e crua, onde cada camada revela mais sobre a miséria humana.
O Poço é o primeiro longa de Galder Gaztelu-Urrutia, e combina ficção com drama, suspense, terror e até um toque de comédia (se você tiver um senso de humor bem sombrio). A trama segue Goreng (Ivan Massagué), que, voluntariamente, vai parar em uma prisão vertical com a esperança de sair de lá em seis meses, portando um certificado. Fácil? Nem um pouco. A prisão, conhecida como “O Poço”, é composta por centenas de andares, com dois prisioneiros por nível. Diariamente, uma plataforma carregada de comida desce do topo, e os prisioneiros devem comer o que resta da refeição. O problema? Os andares de baixo têm que se contentar com as migalhas (ou absolutamente nada). Pior ainda: os prisioneiros são movidos aleatoriamente de andar em andar. Num dia você está no topo, no outro, mal conseguindo respirar lá embaixo.
Agora, é aqui que o conceito “o ser humano não vale o pão que come” vira literal. Goreng vai descobrir que a miséria humana não tem fundo… ou tem, se você contar os andares mais baixos.

O que acontece no final de O Poço?
No clímax do filme, Goreng e Baharat decidem que, para mudar o sistema, precisam enviar uma mensagem clara aos que estão no topo. E qual seria essa mensagem? Uma criança. Eles acreditam que ao preservá-la e colocá-la na plataforma de comida, ela simbolizará a sobrevivência e a esperança, provando que os andares inferiores também abrigam vida – e, com sorte, despertar a consciência daqueles no topo.
Mas, claro, o filme não deixa tudo tão mastigado (diferente dos banquetes que descem pelo elevador). A menina chega ao topo? O sistema muda? O diretor resolve jogar a batata quente no colo do espectador com um final aberto. A criança pode ser um símbolo de esperança, um último suspiro de solidariedade, ou simplesmente mais uma evidência da falha inescapável do sistema.
Ah, e se você ficou se perguntando o que aconteceu com Goreng, ele permanece no poço. Isso mesmo, o cara não sai do buraco, o que pode ser uma metáfora bem literal sobre como o altruísmo (ou a tentativa dele) não garante que você vai se salvar. No fundo, O Poço é aquela aula de sociologia com lições que você não queria, mas de certa forma, já sabia: o egoísmo humano tem níveis profundos, literalmente.
Em suma, o final deixa a mensagem de que, embora a mudança seja uma possibilidade, ela está longe de ser garantida. Afinal, é preciso muito mais do que uma simples ideia para consertar um sistema que está podre desde o topo até o último degrau.
Ah, e sobre solidariedade? No mundo de O Poço, isso é tão raro quanto uma refeição decente no 333º andar.

