O Cinema de Buteco adverte: prepare os lenços.
Existem filmes que chegam de mansinho, sem alarde, mas deixam você em frangalhos. As Pontes de Madison (1995) é exatamente isso: Clint Eastwood dirigindo e estrelando, Meryl Streep no auge da delicadeza, e uma história que fala sobre encontros que mudam tudo — mesmo quando duram apenas quatro dias.
A trama parece simples: Francesca (Streep) é uma dona de casa vivendo em Iowa nos anos 60, acomodada na rotina da família. Quando o marido e os filhos viajam, ela conhece Robert (Eastwood), fotógrafo da National Geographic, que bate à sua porta pedindo informações sobre as pontes cobertas da região. O que poderia ser uma carona vira um caso intenso, breve e definitivo.
Eastwood filma cada olhar e silêncio como se o tempo parasse. A química entre Francesca e Robert é palpável: ela, tímida, carregando desejos adormecidos; ele, aventureiro, de espírito livre. Em poucos dias, criam uma conexão rara — dessas que muitos casais não experimentam em uma vida inteira.
Mas aí vem o dilema: fugir com esse amor ou permanecer com a família? Francesca escolhe a segunda opção. É a decisão racional, socialmente aceita, mas que a condena a uma vida de renúncia. A famosa cena da maçaneta do carro — a mão dela tremendo, sem nunca abrir a porta — é um dos momentos mais dolorosos já filmados.
No 365 Filmes em um Ano, Túllio Dias fez o paralelo certeiro: As Pontes de Madison fala de almas gêmeas não como “metade da laranja”, mas como aquela conexão rara, avassaladora, que pode acontecer em qualquer idade e durar dias — ainda assim, suficiente para mudar tudo.
As pontes, fotografadas por Robert, funcionam como metáfora perfeita: ligações entre mundos, entre pessoas, entre vidas que só se cruzam por um instante antes de seguir caminhos separados.
Meryl Streep recebeu mais uma indicação ao Oscar pelo papel, e com justiça. Cada microexpressão dela traduz a intensidade de uma mulher simples diante de uma escolha gigantesca. Eastwood, longe do estereótipo de durão, entrega uma das performances mais sensíveis de sua carreira.
Mais de 20 anos depois, o filme continua atual porque fala do universal: as escolhas que nos definem. Não há moralismo barato. O adultério aqui não é pecado; é dilema humano. Francesca abre mão do grande amor para proteger a família — e seus filhos, no futuro, descobrem essa história e entendem o peso das decisões dela.
https://youtu.be/aPLAl5nErCo
O Projeto 365 Filmes em um Ano é apresentado por Tullio Dias, escritor e Co-fundador do portal Cinema de Buteco, especialista em listas e críticas de cinema.
