Se Emily Brontë saísse do túmulo hoje, ela provavelmente abriria o TikTok. E encontraria um trailer de sua obra-prima gótica transformada em clipe indie-pop com pegada soft porn. Com Margot Robbie fazendo cara de safada e Jacob Elordi lambendo a parede. É oficial: O Morro dos Ventos Uivantes 2026 não está aqui para agradar clube de leitura, mas para provocar.
E está provocando.
A nova adaptação do clássico britânico de 1847, com estreia marcada para 12 de fevereiro de 2026, vem causando arrepios (e não só pelo clima sombrio das charnecas). A direção é de Emerald Fennell (Bela Vingança), o elenco é estrelado, a trilha sonora é de Charli XCX e o Twitter está pegando fogo. O motivo? Um teaser repleto de erotismo, sensualidade e… coreografias de beijo que fariam Saltburn corar.
Um clássico gótico com trilha de rave emocional?
A primeira grande ousadia da nova versão é a trilha sonora. Esqueça violinos chorosos e tempestades ao fundo. Aqui, Catherine e Heathcliff se amam (ou se destroem) ao som de Charli XCX, mais especificamente da faixa “Everything Is Romantic”, do disco Brat — que, vamos combinar, tem mais paixão impulsiva do que muito poema romântico do século XIX.
E não para por aí: Charli confirmou que compôs canções inéditas especialmente para o filme, o que já nos faz imaginar Heathcliff dançando de olhos fechados no meio da charneca enquanto “party girl tears” ecoa nos fones de ouvido.
Sobre o que é O Morro dos Ventos Uivantes, mesmo?
Caso você tenha faltado nessa aula de literatura (ou só tenha assistido à versão com Ralph Fiennes e achado que era O Paciente Inglês), vamos recapitular:
A história se passa na região de Yorkshire e gira em torno da relação doentia entre Heathcliff, um órfão adotado e marginalizado, e Catherine Earnshaw, a garota rica que o ama, mas o troca por status. É uma montanha-russa emocional recheada de rancor, morte, vingança e sofrimento. É o tipo de história que termina com você olhando pro teto e dizendo: “Eu nunca vou amar ninguém assim… graças a Deus.”
A versão 2026 é contada do ponto de vista do Sr. Lockwood, inquilino da propriedade Thrushcross Grange, que escuta a história da boca de Nelly Dean, governanta da família Earnshaw — um recurso já clássico e mantido na nova produção.
Mas e o trailer? Erótico demais ou só romântico moderno?
O trailer lançado na última semana não deixou muita dúvida: essa versão é quente. Não “ah, eles se olham com desejo”, mas sim “eles se pegam como se estivessem gravando o clipe de Blurred Lines”. Fãs da obra original surtaram.
E não é difícil entender por quê. O livro retrata uma paixão destrutiva, quase patológica. Catherine e Heathcliff se odeiam, se amam, se assombram e se sabotam até a morte — literalmente. O que o trailer da Netflix mostrou foi mais… Bridgerton feat. Euphoria. Paixão tórrida, corpos suados e uma Margot Robbie loira demais para o papel.
Escalação de elenco: escolha ousada ou casting furado?
Falando em Margot: a atriz brilha, é carismática, domina a tela — mas será que é Catherine? A Catherine original era selvagem, nada glamourosa e com uma energia mais “tempestade em carne e osso” do que “capa da Vogue”.
E Jacob Elordi como Heathcliff? O personagem é descrito por Brontë como um homem de origem cigana, marcado por preconceito e exclusão social. O casting de um ator branco, alto, australiano e capa de revista masculina, inevitavelmente reacendeu discussões sobre colorismo e apagamento histórico.
Vale lembrar: a única adaptação que escalou um ator negro para o papel foi a de Andrea Arnold, em 2011 — com James Howson vivendo um Heathcliff mais próximo da dor social que o personagem carrega no livro.
E as polêmicas continuam…
Não bastasse a questão do tom erótico e do elenco, outro ponto levantado é o marketing romantizado da história. Em tempos de debates sobre relacionamentos tóxicos, muitos espectadores mais atentos têm destacado que transformar O Morro dos Ventos Uivantes em um drama sensual pode ser irresponsável.
O amor entre Catherine e Heathcliff não é bonito. É obsessivo, abusivo, destrutivo. É o tipo de relação que a gente denuncia, não idealiza.
Mas e aí, vale a pena assistir?
Se você gosta de adaptações provocativas, ama um dramalhão gótico e não se importa com purismo literário, essa pode ser sua nova obsessão cinematográfica. Emerald Fennell já mostrou com Bela Vingança que sabe como subverter expectativas e entregar histórias incômodas com uma estética pop-chic provocadora.
Agora, se você é do tipo que quer fidelidade à obra, Heathcliff marginalizado de verdade e uma Catherine mais tempestade do que ternura… talvez esse filme te deixe uivando — de raiva.
Quando estreia?
A nova adaptação de O Morro dos Ventos Uivantes chega aos cinemas brasileiros em 12 de fevereiro de 2026, bem a tempo de dar um climão no seu Dia dos Namorados. Prepare o lenço, a playlist e o ranço.

