como foi o show do oasis em são paulo 22/11/2025

Como foi o show do Oasis em São Paulo [22/11/2025]

Publicado originalmente em Música Viajante

Em 2009, meses antes do Oasis acabar, acompanhei a transmissão ao vivo de um dos shows no Brasil. Era um fim capenga para uma história recheada de altos e baixos — especialmente na dinâmica entre Liam e Noel Gallagher. No entanto, o encerramento foi apenas o primeiro capítulo de uma verdadeira saga que demorou 16 anos até a aguardada trégua dos irmãos resultar no maior evento musical da década.

É importante lembrar esse contexto para tentar entender como uma banda que tocava para 15 mil pessoas (vamos ignorar os 200 mil presentes no Rock in Rio 2001) ganhou uma grandeza mundial surpreendente. Ninguém questiona a qualidade da obra e a força das canções ao longo dos anos, mas parece que a insistência de Noel e Liam seguirem brigando através das redes sociais foi fundamental para manter o interesse/curiosidade e cativar novas audiências.

Provavelmente foi o maior caso de FOMO (Fear of Missing Out) da história recente da música. Imagina. Após anos desde o fim e as várias tretas, o reencontro dos irmãos Gallagher se tornou imperdível. Entre aqueles que apostavam na separação antes mesmo do primeiro show e os mais otimistas rezando pelo retorno definitivo, a verdade é que agora o Oasis é uma das maiores bandas de rock em atividade — e finalmente provaram que não são apenas brigas e egos imensos. Mais que apenas a música, eles uniram estilo, comunidade e um marketing de ódio de sucesso. Fucking biblical.

O reencontro com o público brasileiro começou na noite de sábado, 22 de novembro. Precisamente às 21h, o telão começou a exibir imagens das matérias de jornais de um ano atrás, quando os shows foram anunciados. Ao som de “Fuckin in the Bushes”, o público iniciou uma recepção calorosa. Parecia promissor. A banda entrou com os irmãos de mãos dadas cumprimentando os fãs e iniciaram com “Hello”. Na sequência, “Acquiesce” para garantir que a noite estava ganha, mas não foi bem assim.

A morte de Gary “Mani” Mounfield, baixista do Stone Roses, e amigo dos irmãos Gallagher, deixou o clima pesado. E para quem observava lá de cima, direto da arquibancada na entrada do portão 6, a impressão era de um público apático e mais preocupado em fazer conteúdo do que viver a história. Entre momentos de empolgação e de, espero, admiração tão forte que foi necessário ficar parado para se beliscar e ter certeza que estava vivo, a magia brasileira de ser sempre o melhor público de qualquer banda falhou. Miseravelmente. E essa opinião é compartilhada por quem se espremeu na grade da pista A também.

Não faltavam clássicos para movimentar os fãs uniformizados como se fossem jogadores de um time de futebol chamado Oasis. Mas nem “Morning Glory”, “Some Might Say” e uma introdução com interação forçada entre os fãs em “Cigarettes & Alcohol” mudou a energia. Aliás, o momento do poznan é um show a parte. Liam incentiva o público a ficar de costas para o palco, abraçarem as pessoas desconhecidas ao lado e pularem como loucos. Na arquibancada foi muito complicado fazer isso sem arregaçar o joelho, mas valeu a pena.

O volume estava alto, como deve ser, mas não sei se o vento ou um problema técnico teimava em criar oscilações desagradáveis. Quanto mais alto melhor, sempre. Especialmente se tem uma banda de rock raiz tocando “Supersonic” no palco. Nem ela foi capaz de causar comoção geral. Até parecia que tudo estava perdido, naquela noite estava mesmo, mas o domingo existiu para consertar tudo e salvar a imagem brasileira. Fizeram até o estádio tremer, mas os detalhes do segundo dia ficarão para o texto da minha esposa.

O repertório foi equilibrado. 13, das 23 canções escolhidas, eram muito populares. Entre as surpresas para os não-iniciados, uma favorita minha: “Talk Tonight”, talvez a faixa mais importante da trajetória do Oasis — entenda aqui. Os 70 mil presentes conseguiram se desconectar da necessidade crônica de tirar selfies ou fotos merda do palco, e ligaram as lanternas para criar uma imagem linda de Noel de costas encarando o estádio iluminado pelos smartphones. O “set” exclusivo de Noel ainda teve “Half the World Away” e “Little By Little”. Nesses momentos, Liam, obviamente, não aparecia em cena. Provavelmente estava no backstage xingando mentalmente o irmão. Ou pensando ofensas ininteligíveis para os brasileiros. Ou alguém realmente entendeu alguma coisa que ele falou durante suas interações?

“Stand By Me”, minha primeira grande lembrança de contato com o Oasis, foi uma das músicas mais cantadas da noite. Nunca havia reparado como as letras do Oasis são simples e repetitivas. Não é como se fossem grandes poetas, embora tenham estrofes arrepiantes e canções lindas, como “Cast no Shadow” e minha querida “Slide Away” (outro momento de esgoelar como se fosse o fim do mundo). “Live Forever” teve um longo momento de reverenciação ao amigo desencarnado Mani, com toda a banda de frente para sua imagem no telão. Na sequência, antes do intervalo, Liam mostrou o quanto evoluiu como cantor em “Rock n’roll Star”. Uma vez durante uma gravação, ouvi do PJ, do Jota Quest, que a gente precisa tocar o instrumento com raiva. Precisa de força. Precisa de pegada. Acho que isso vale para quem canta. Liam estava com raiva, mas não aquela coisa imatura de gente arrombada precisando de atenção para validar sua insegurança. Era raiva pura, simples e concentrada. De quem finalmente encontrou a maturidade para ser um rock star de verdade.

O Oasis saiu para um breve pausa e retornou com “The Masterplan” e “Don’t Look Back in Anger” – bem, deixa eu corrigir: todos voltaram, exceto o Liam. Agora ele deve ter ficado refletindo no backstage, todo arrependido de não ter escolhido gravar essa faixa ao invés de “Wonderwall”. Ou as duas, ora bolas! Como escrevi lá em cima, o Oasis não é uma banda lembrada por suas letras, mas quando acertam nos versos é como um novo big bang nas nossas mentes. A pessoa que não se emociona com a segunda estrofe, quando Noel canta “Please, don’t put your life in the hands / Of a rock’n’roll band / Who’ll throw it all away” e a guitarra grita com seus agudos, está morta por dentro e não sabe. E é isso, sabe? Poderia encerrar aqui e explicar que apenas por um detalhe, toda a loucura de sair de Belo Horizonte para shows é compensada. Quando existe amor, e você se permite sentir, um detalhe é tudo que você precisa para se sentir vivo e repetir tudo de novo. E de novo. E de novo até a máxima “estou velho demais para isso” realmente ser verdadeira. Assim, ela já é, mas você entende o que estou querendo dizer.

Quando Liam volta é para marcar o gol do título. “Wonderwall” e “Champagne Supernova” encerram a noite dando as boas-vindas ao Oasis no hall de grandes bandas de todos os tempos. Demorou apenas 16 anos desde aquela separação ardida e todas as ofensas públicas, mas valeu a pena demais esperar. Ainda teve um show de fogos (arrisco dizer que foi o único que teve minha atenção + interesse desde sempre; o único que não quis espancar os responsáveis pelo barulho e o incômodo aos animais) para criar a falsa esperança de que seria fácil voltar para casa do Morumbi, mas isso é outra história…