Crítica: O Massacre da Serra Elétrica – O Inicio (2006)

Gosto é gosto. Da mesma forma que existem pessoas que veneram os filmes do Van Damme, existem aqueles que são incapazes de pensar no terror como entretenimento. Quando eu vejo um filme de terror, a única exigência que tenho é que ele me faça ficar assustado, perto de ter medo. Sei que isso é raro de acontecer, mas nem por isso vou ficar massacrando longas que são feitos exclusivamente para mostrar um pouco de violência gratuita nas telonas (e telinhas) do mundo inteiro. O cinema é um reflexo de nossas vidas e os gore, slashers movies só existem por conta das pessoas que fazem questão de ter seus desejos mais íntimos revelados. Michael Haneke não errou ao mostrar o quanto o ser-humano é sádico em seu filme Violência Gratuita.

A franquia Massacre da Serra Elétrica é de um sadismo único. Reconheço que todos os filmes slashers tem essa tendência, mas mesmo os assassinos de Halloween e Sexta-Feira 13 tem que abaixar a cabeça e reconhecer que a família Hewitt é realmente perturbada. Na verdade, todos os filmes slashers começaram depois de 1974, quando o longa-metragem original estreou nos cinemas. O realismo chocou platéias do mundo inteiro e o bizarro Leatherface se transformou em um ícone podre do terror. Digo isso porque de tão trash que os filmes são, ele nunca chegou a ser “adorado” como Michael Myer ou Jason Voorhees. O Leatherface incomoda, causa nojo. Ele é anti-pop. Um homem anormal e desprezível. Tudo isso é fortalecido pela frieza e crueldade com que o assassino despedaça suas vítimas.

Após um remake de sucesso em 2003, os produtores resolveram contar uma história diferente (ou tentaram, pelo menos) e mostrar as origens da família Hewitt. Os canibais delinquentes do Texas são apresentados em meio a um banho de violência contra quatro jovens adolescentes e um casal de motoqueiros. O resultado acabou sendo o irregular O Massacre da Serra Elétrica – O Inicio. O único ponto alto do filme (além das curvas de Jordana Brewster) é a divertida atuação de R. Lee Ermey, que interpreta o xerife Hoyt. A própria ocasião em que o xerife “nasce” já vale o filme (mas não dispensa as curvas de Jordana Brewster). O longa, como não podia deixar de ser, privilegia a violência explícita e visceral em detrimento do terror psicológico. Tudo que o remake conseguiu criar de positivo foi re-utilizado (inclusive as semelhanças entre os mocinhos: a personagem de Jessica Biel retorna no corpo de Brewster, bem como o namorado de ambas serve de modelo de mascara para o carnaval do maluco do Thomas Hewitt; e o final no matadouro) e isso acaba ficando chato no fim das contas. É como se os roteiristas não tivessem capacidade/criatividade o suficiente para fazer algo melhor ou no mínimo, diferente. Talvez eles pensassem que a minúscula carga psicológica que eles investiram em modelar os membros da família Hewitt já fosse o suficiente para o roteiro. Quase como se ocupasse o espaço das mortes e do sangue.

O Massacre da Serra Elétrica – O Inicio tem seus vários defeitos, mas mesmo assim consegue superar vários outros exemplares de filmes violentos que existem por aí. Tudo isso apenas por conta do nome. Mas por quanto tempo será sustentável manter franquias apenas por conta do sucesso que os filmes originais fizeram? O gênero terror precisa de boas ideias e são raros os filmes que conseguem surpreender ou agradar de verdade, principalmente se tratando de slashers movies. Os fãs correm o risco de ficar orfãos…