review extermínio: evolução

Review Extermínio: Evolução: Os (quase) zumbis de Danny Boyle estão de volta

O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica de Extermínio: Evolução possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.


poster extermínio: evoluçãoDANNY BOYLE RENOVOU O SUBGÊNERO ZUMBI COM EXTERMÍNIO (28 Days Later, 2002). Ao invés de replicar a fórmula popularizada por George Romero em A Noite dos Mortos Vivos (The Night of the Living Dead, 1968), o diretor de Trainspotting desafiou as fórmulas pré-estabelecidas para criar algo novo. Não é por acaso que depois de Extermínio, os estúdios voltaram a prestar atenção em histórias com zumbis, como foi o caso do remake de Madrugada dos Mortos (Dawn of the Dead, 2004), de Zack Snyder, e Guerra Mundial Z (World War Z, 2013), de Marc Forster.

23 anos depois (e uma continuação totalmente ignorada), Boyle retoma a parceria com o roteirista Alex Garland para o começo de uma trilogia dentro deste universo. Extermínio: Evolução (28 Years Later) é um tanto complexo. Ele não será muito bem recebido pelos fãs do original ou por quem aprecia zumbis tradicionais. Aqui temos humanos totalmente consumidos pela raiva, impulsos agressivos e vontade de morder. Ah. E com tesão também. No entanto, caso você só queira um bom filme de terror cheio de ação e tensão, dificilmente encontrará opção melhor em 2025.

A trama acompanha a jornada de Spike (Alfie Williams, um pivete mega talentoso de apenas 14 anos de idade) cumprindo os rituais da comunidade em que vive com o pai (Aaron Taylor Johnson) e a mãe (Jodie Comer). Em certo momento, após descobrir que mesmo no apocalipse, adultos são uns babacas mentirosos, Spike decide buscar se aventurar no mundo exterior para salvar a vida da mãe. 

Existe uma excelente subversão da expectativa do espectador. Os minutos iniciais parecem alimentar o protagonismo de Taylor-Johnson, mas não é bem assim. Williams é a verdadeira estrela da produção e faz isso muito bem. Não apenas por receber um personagem complexo e bem construído, mas por se revelar como um ator com um potencial imenso. 

Mesmo sem dedicar tanta atenção para mergulhar em discussões políticas e sociais, Extermínio: Evolução se garante como uma jornada de amadurecimento, autoconhecimento e luto no fim do mundo. Uma prova que independente do quanto a sociedade estiver destruída, as relações humanas sempre serão as mais importantes. A jornada de Spike é eletrizante. São momentos angustiantes de perseguições, quando nosso inconsciente se recorda de Game of Thrones e sabe que ninguém está livre da foice. 

Essas partes tensas mostram o que Boyle tem de melhor como autor: são montagens rápidas, caóticas e com um senso de humor perverso, que não deveria existir, mas faz parte da graça. Um diferencial foi o uso de vários iPhones pelo time de direção de fotografia para gerar um efeito único. O resultado realmente funciona e lembra os grandes momentos do diretor. Porém, admito que senti falta de outras características visuais que tornam o cinema de Boyle tão especial. É como se desta vez, ele pisasse no freio ao invés de trabalhar montagens com a sua tradicional assinatura. 

Completando o elenco temos Ralph Fiennes vivendo um guru pós-apocalíptico iluminado pela sabedoria do sol. Ele ficou tão fritado das ideias que começou a empilhar crânios para criar um cemitério para os humanos — e aqueles que deixaram de ser humanos. Apesar de cumprir a sua função narrativa, o personagem de Fiennes alimenta muitas dúvidas e questões. Sou adepto de narrativas que deixam mais perguntas que respostas, porém é como se existisse uma história não contada ali. Pode ser consequência do planejamento de criar uma nova trilogia e precisar “guardar” certas coisas. Vai saber. 

Tenho algo relevante para acrescentar. 

Os “zumbis” Alfa são diferentes dos outros zumbis. Eles parecem mais inteligentes, além de serem maiores e mais fortes. E ganharem bracinhos de bebês entre as pernas. É embaraçoso assistir ao filme com sua esposa. Você sabe que ela vai olhar uma caceta daquele tamanho e fazer comparações inevitáveis quando chegar em casa. Bola (ou bolas) fora de Danny Boyle. Brincadeiras à parte, caso você também tenha ficado de cara com o tamanho da piroca, apesar dos mais de dois metros de altura do ator, são próteses. Deus me livre aquela porra ser real.

Agora que compartilhei meus sentimentos de inferioridade, posso dizer que queria ter gostado mais de Extermínio: Evolução. Não é um filme ruim ou que estraga o original (em muitos sentidos, ele é superior, inclusive), só parece não saciar nossas expectativas e o tal potencial de ser, novamente, revolucionário. Sei que é um problema de ponto de vista. Nossa experiência é subjetiva e sujeita a interferências indesejadas, mas eu queria mais.