O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A review de Dezesseis Facadas possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
O QUE ACONTECE QUANDO VOCÊ MISTURA SLASHER, VIAGEM NO TEMPO E GERAÇÃO TIK TOK? Dezesseis Facadas (Totally Killer, Nahnatchka Khan, 2023) é uma curiosa mistura desses ingredientes, cujo resultado é um dos grandes destaques da temporada de melhores filmes de 2023 quando se leva em consideração viagem no tempo e filmes slasher.
Jamie (Kiernan Shipka, de O Silêncio) vive em uma pequena cidade traumatizada pelos violentos assassinatos ocorridos há 35 anos. Enquanto todos acreditavam que o perigo tinha ficado para trás, uma nova morte acontece e deixa todo mundo em risco. Jamie acidentalmente viaja para o passado e tem a chance de evitar todas aquelas mortes.
Falando assim, você pode até questionar. “Essa premissa não me convenceu, cara. Não quero ver isso.” A verdade é que Dezesseis Facadas tinha tudo para ser um desses filmes bobinhos que a gente tá cansado de perder tempo assistindo no streaming, mas não é. O roteiro é cheio de questões divertidas e a narrativa é bem construída.
Quando Jamie, uma jovem dos anos 2020, volta direto para a década de 1980, existe um conflito cultural muito forte. Enquanto os jovens de hoje vivem dentro da realidade de seus celulares e com uma ideia de convívio social muito própria, os adolescentes dos anos oitenta eram selvagens e mais livres em relação ao que hoje é considerado um problema. É engraçado como Jamie grita quando um personagem encosta no seu ombro (“Toque indesejado, toque indesejado”) ou quando é (literalmente) arremessada para fora de uma festa. Ao mesmo tempo, quando os personagens usam drogas, Jamie reclama que a maconha era leve demais em relação ao que está acostumada a usar nos dias atuais.
Assim como acontece com Marty McFly em De Volta Para o Futuro, Jamie também se encontra com sua mãe e pai. O choque é descobrir que ambos eram adolescentes desmiolados e praticavam bullying com os colegas. Parte do filme é dedicado para a relação entre filha e (futura) mãe, o que é bem divertido, considerando a diferença entre o comportamento de ambas. Inclusive, se existir algo negativo em Dezesseis Facadas, é a própria caracterização da protagonista Jamie, que é quase como uma versão adolescente de Buda, com suas ações pretensiosas e inteligência acima da média para tornar a personagem mais real – ao contrário dos jovens dos anos 1980, que são tridimensionais exatamente pelos seus defeitos.
Esses dilemas criam um retrato divertido ao imaginar uma adolescente padrão atual convivendo com os jovens da década de 1980. Mas Dezesseis Facadas não se limita às diferenças entre gerações: existe ainda espaço para a ficção-científica. Ainda que não seja a proposta principal, a criação da máquina do tempo é uma brincadeira que funciona bem dentro da lógica interna da obra. Sem falar nas referências hilárias de De Volta Para o Futuro e Vingadores: Ultimato.
Por fim, nessa grande salada de subgêneros, Khan ainda brinca com o slasher. Evocando Pânico com a ideia de um assassino mascarado que pode ser qualquer pessoa (inclusive, a máscara faz uma curiosa referência a Halloween: na franquia de John Carpenter, a máscara era inspirada em William Snatcher. Já em Dezesseis Facadas foram usados Kiefer Sutherland, Rob Lowe e Dolph Lundgren como inspiração para o visual), o longa cria boas sequências de mortes. Violentas na medida certa para não desviar o tom da obra. E ainda há espaço para uma grande reviravolta no seu encerramento.
Dezesseis Facadas é uma bela surpresa disponível na Amazon Prime. Imperdível para amantes de bons filmes de terror e comédias ácidas, o roteiro politicamente correto cumpre o prometido e garante a diversão. Recomendo.

