uma figura mascarada está ao lado do quadro da família de usher com todos os membros ensanguentados

Review A Queda da Casa de Usher: Modernizaram a obra de Edgar Allan Poe para a Netflix

A QUEDA DA CASA DE USHER É MAIS UM ACERTO NA CARREIRA DE MIKE FLANAGAN. O diretor de Hush e Jogo Perigoso encontrou um ambiente de conforto produzindo séries para a Netflix e coleciona pontos positivos em suas obras, como é o caso da ousada homenagem ao legado do escritor Edgar Allan Poe. 

A série mostra o patriarca da família Usher confessando todos os seus crimes e como foi o próprio assassino dos seus filhos. Cada episódio é dedicado à morte de um dos filhos. Mas não estamos falando de “qualquer tipo de morte”, veja bem. Cada um dos filhos recebe uma história de Poe para chamar de sua. Essa modernização da obra do autor gótico mais querido da história, torna A Queda da Casa de Usher uma série apaixonante. 

Caso tenha ficado a fim de saber mais, vamos lá. Fiz uma breve pesquisa para identificar as referências na série da Netflix: O nome das personagens Tamerlane, Annabel Lee e Lenore são referências a poemas homônimos. Verna (Carla Gugino) é um anagrama para Raven (Corvo, na tradução), que não apenas é o título de um conto, como também prenúncio de morte. Outros contos famosos que foram adaptados na série são: Os Assassinatos da Rua Morgue, A Máscara da Morte Rubra, O Coração Delator, O Gato Preto, O Poço e o Pêndulo, e, um dos poucos que li, O Barril de Amontillado. 

Flanagan precisou modernizar e tomar certas liberdades na construção da série. Apreciei um cuidado especial com as atividades sexuais dos seus protagonistas. Quase todos possuem um lado sórdido que fica na linha tênue entre um fetiche que você não vai querer compartilhar com ninguém e serem verdadeiros babacas. Além disso, o flerte com a ideia de que todos somos bissexuais está lá, para desespero daqueles que acham um absurdo existir quem goste igualmente de homem e mulher. 

Fiz uma espécie de “revisão” da série enquanto minha esposa assistia aos episódios. É muito satisfatório notar como cada episódio entregava pistas do que aconteceria. Não apenas pelas lembranças e fantasmas que atormentam o patriarca, mas em pequenos detalhes escondidos, os famosos easter-eggs. São desde menções aos filmes dirigidos por Flanagan, citações de contos de Poe e indicações do que há por vir. 

O elenco é inspirado. Além dos tradicionais colaboradores de Flanagan, como Gugino, Bruce Greenwood (Jogo Perigoso), Kate Siegel (Hush), Ruth Codd (O Clube da Meia-noite), T’Nia Miller (A Maldição da Mansão Bly), a série apresenta também Mark Hamill (o Luke Skywalker, de Star Wars) como o misterioso Arthur Pym. É um dos personagens mais curiosos da série, já ele mesmo está sempre em silêncio, guardando seus pensamentos e apenas aguardando ordens. 

Há quem diga que A Queda da Casa de Usher é uma versão gótica da incrível Succession, da HBO. São séries tão diferentes que é até um pouco difícil entender como é que essa conversa começou. Claro que podemos, sim, dizer que os conflitos e disputas entre os irmãos querendo atenção do patriarca dono de uma grande empresa farmacêutica são fatos em comum, mas fica apenas nisso. 

Recomendado para fãs de boas histórias de terror, sejam elas em séries ou filmes, A Queda da Casa de Usher é uma homenagem competente para a obra de Edgar Allan Poe. Existem muitos sustos, momentos feitos para dar medo, mas acima de tudo, um verdadeiro presente para quem sabe apreciar boa arte. Recomendo.