Crítica: Nintendo e Eu (2020)

O público formado por quem tem mais de trinta anos tem um fator importante que os move: a nostalgia. Quem assistia a filmes na Sessão da Tarde (Globo) ou no Cinema em Casa (SBT) cresceu com diversas referências do cinema norte-americanos dos anos 1980 e 90. Nintendo e Eu (Death of Nintendo), drama juvenil dirigido pelo filipino Raya Martin aposta todas as suas fichas na nostalgia e constrói uma narrativa espelhada nos filmes que muito viram exaustivamente vinte ou trinta anos atrás. Funciona até certo ponto, mas o público cresceu e precisa de algo a mais. A nostalgia não basta.

Nos anos 90, um grupo de pré-adolescentes dominado pelas alterações hormonais vive os horrores e as maravilhas das descobertas desta nova fase da vida. Com a proximidade das férias escolares, as preocupações do grupo giram em torno dos jogos de videogame, garotas, basquete (eles são fãs do Magic Johnson) e, principalmente, em questões relacionadas à puberdade.

Diante da ausência de figuras paternas eficientes, cada um dos garotos precisa se virar para lidar com as dúvidas e angústias comuns à idade. Enquanto alguns têm um certo privilégio financeiro e até afetuoso, outros entendem desde cedo que a vida pode oferecer alguns obstáculos.

A gente observa algumas semelhanças nos grupos de garotos da época da escola, cada um com a sua particularidade, observada sob diferentes perspectivas. Enquanto os filmes de ação costumam mostrar jovens cheios de disposição e coragem, os dramas com adolescentes costumam mostrar as fragilidades dos personagens. Nintendo e Eu faz isso com bastante sensibilidade e com uma dose de sutileza. Tratar de uma fase da vida em que se acredita que as amizades vão durar para sempre e que as dificuldades não vão durar nada, demanda muito cuidado para trazer conforto através da doçura no olhar do cineasta, mas sem permitir que se caia na armadilha de mostrar um mundo cor-de-rosa.

O comportamento dos garotos alterna entre rebeldia e necessidade de acolhimento, conforme as mudanças do avanço da história.

O visual do filme é, ao mesmo tempo, uma homenagem e um resgate da estética dos anos de 1990, especialmente, dos filmes. Existe um balanço, explica o diretor, entre a artificialidade daquela década, mas também a luz natural, muito usada pelo diretor de fotografia Ante Cheng.

Sob ecos de Conta Comigo (Stand by Me, 1986), clássico de Rob Reiner exibido inúmeras vezes nas tardes da Globo, o roteiro de Valerie Castillo Martinez aponta semelhanças entre a vida da autora e dos personagens, o que é algo positivo. Porém essa nostalgia passou um pouco do ponto e se transformou em algo que exagera na pureza e na inocência da fase retratada. Daí a falta de um conflito maior. É como se o filme tentasse ser uma homenagem e se contentasse com esse papel, sem se permitir acrescentar algo maior à sua narrativa. Essa é a limitação de Nintendo e Eu, que chega aos cinemas pela Pandora Filmes de maneira tímida, mas com potencial para trazer calma e nostalgia aos órfãos dos anos 90.