Loki – Arnaldo Baptista

De Paulo Henrique Fontenelle

Documentário sobre a vida e obra de Arnaldo Baptista, que acaba sendo mais retrato de uma época e reflexo de uma questão importante do cenário musical nacional da atualidade: o que aconteceu com o rock brasileiro, pelo amor de Deus?!?!

Começando pelo interesse pela música de Arnaldo, ainda bem novo, suscitado pela fascinação pelos Beatles, e passando pela fascinação por Rita Lee, suscitada pelo interesse que ela tinha por música, o filme mostra o início de uma trajetória brilhante, inovadora, extremamente criativa e que guarda uma necessidade daquela juventude de criar. Ao mesmo tempo em que havia inspiração e respeito pelos ídolos ingleses, existia também uma vontade de ser genuinamente brasileiro. O impacto na música seria irreversível.

Cenas de arquivo mostram certa inocência de Arnaldo e sua já formada banda Mutantes, quando participam pela primeira vez do Festival da Canção, cantando com Gil, “Domingo no Parque”. Existe o total domínio daquilo que se faz no palco (apesar da pouca idade, eles sabem de seu potencial, daquilo que tem a oferecer), mas ao mesmo tempo nota-se certa inocência, um “não se levar tão a sério” que torna as coisas sempre mais divertidas e interessantes. Mutantes é mesmo sensacional (será melhor que Novos Baianos?)!

O fim da banda parece ter deixado marcas eternas em Arnaldo que pinta quadros onde ecos desse momento difícil de sua vida aparecem. Sua vontade de criar era maior que os Mutantes. Sai Rita Lee. Acaba também o casamento dos dois. Mas Arnaldo não aceita a idéia de parar de produzir.

Os depoimentos de pessoas que conviveram com o artista, ou que de certa forma admiram seu trabalho, deixam claro a genialidade e o perigo de tanta capacidade criativa. A carreira solo, a retorno em 2006… O filme consegue abarcar não só uma linha grande de tempo, com muitos acontecimentos importantes, marcantes, dignos de registro, mas também a genialidade e importância de Arnaldo, e dos Mutantes.

Eu sinceramente não sou tão entendedor de música. Admirador sim. Então, se alguém puder me responder agradeço: quando a coisa começou a deixar de existir? Quando o rock brasileiro cometeu suicídio? A culpa é do público que vem sendo formado? É da indústria? É desse tal “ novo jeito de se consumir música”? Quando a coisa deixou de ser “música cerebral” pra se tornar “música simples pra agradar à maior quantidade de pessoas”? O rock acabou, melhor ligar sua TV.

Meu preconceito contra documentários musicais está acabando. Restam apenas aqueles contra Nicolas Cage e Will Smith. Recomendo.

(O Cinema de Buteco tem um outro texto sobre o filme, este escrito por Fla aqui)