Jogos Vorazes: a sociedade do espetáculo para leigos

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JOGOS VORAZES É UM FILME BASEADO EM UMA SÉRIE DE LIVROS destinada ao público jovem. A história se passa em uma distopia, uma visão pessimista de futuro. Após uma guerra civil, a América do Norte se encontrava dividida em doze distritos e uma capital. A desigualdade social é brutal. Enquanto em alguns distritos as pessoas lutavam pela sobrevivência, na capital e nos distritos mais abastados as classes ricas são abastecidas com todo tipo de luxo.

Uma vez por ano, os distritos devem mandar para a capital um casal de adolescentes como “tributos”, a fim de disputar uma competição mortal, os chamados ´jogos vorazes´ que dão nome ao filme. Os jogos são uma espécie de reality show violento no qual os competidores devem lutar até a morte em uma arena virtual, até restar apenas um vencedor. Ao mesmo tempo entretenimento e forma de controle social, os jogos representam a submissão dos distritos à capital: de forma algo macabra, as pessoas divertem-se torcendo por seus competidores favoritos no sádico programa, uma apoteose surrealista dos reality shows que existem em nossa realidade.

A ideia de um violento show de TV como forma de entretenimento e controle social não é nova. O filme O Sobrevivente (1987), baseado em um conto de Stephen King e estrelado por Arnold Schwarzenegger, já exibia uma sociedade subjugada por um violento Estado policial, bem como alienada por sádicos programas de TV. Entretanto, em Jogos Vorazes tal proposição ganha dimensões mais atuais.

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Pra começar, a competição não é justa; os jogadores não têm as mesmas chances de ganhar. Enquanto nos distritos mais ricos os competidores são treinados desde a infância e se oferecem para competir, nos distritos pobres os competidores são escolhidos, entre os membros da desafortunada população, por sorteio. Além disso, existe, a todo momento, a interferência da produção do programa a fim de mudar as regras do jogo de acordo com a vontade do público ou dos patrocinadores.

A história do filme tem início quando Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), uma jovem proveniente de um distrito pobre, se oferece para participar dos jogos no lugar de sua irmã mais nova. Katniss é enviada à capital juntamente com Peeta, outro adolescente de seu distrito sorteado para participar dos jogos. Na capital, o casal de jovens aprende que a competição não é somente física, mas também uma disputa baseada na popularidade de cada participante.

Antes mesmo de os jogos começarem, os jovens devem se apresentar ao público, dar entrevistas e se preocupar com a “imagem” que passam para a audiência. Um relevante mecanismo dos jogos é conseguir patrocinadores que podem auxiliar o competidor com mantimentos e remédios quando este estiver em situações problemáticas durante a disputa. A ajuda dos patrocinadores é, portanto, de fundamental importância para definir o resultado final. O primeiro passo então é “vender” uma boa imagem de si para os patrocinadores. Katniss logo aprende que para ganhar o jogo é preciso primeiro ganhar o público, ser popular. A heroína precisa então representar um bom papel, mesmo que este não corresponda a uma imagem verdadeira.

Desse modo, pode-se dizer que o futuro distópico de Jogos Vorazes pode ajudar a compreender a realidade atual, pondo em cena, de forma simbólica, a sociedade do espetáculo em que vivemos. Ajudando a repensar a ideia de entretenimento como uma sutil forma de controle social. Além disso, o filme não aborda apenas a problemática dos reality shows, mas igualmente sobre as relações mediadas através das redes sociais. A promessa dessas redes é de nos conectar com outras pessoas; entretanto, o uso que se faz assemelha-se mais a uma exposição da própria imagem e à eterna busca por status e popularidade. A indagação que se coloca é: será que já vivemos em uma espécie de grande “jogo voraz” no qual devemos sempre “vender” a nossa imagem, a fim de nos tornarmos mais populares para continuar no jogo?

Aproveite para ler a crítica de Jogos Vorazes: Em Chamas